domingo, 6 de junho de 2010

Casa da Ciência – Os Olhos Sem Rosto (1960)

Em sua palestra, tendo o filme como ponto de partida, a professora Paula Sibilia, nos instigou a pensar sobre a intervenção técnica no corpo humano, o deslocamento de limites - que confunde os valores inerentes ao par natural versus artificial –, as inúmeras questões envolvidas em todo o processo do avanço da tecnologia e a nossa moral.

Ela invocou o mito de Pigmalião (ou seria Pigmaleão?), o personagem Frankenstein e outros filmes de ficção científica, como BLADE RUNNER e GATTACA. O mito representaria um lado da moeda, quando o homem cria algo belo na sua unipotênica. O doutor do filme, em dado momento, não conformado com o que já foi conquistado, querendo provar a sua onipotência declara: “Não há razão para duvidar de mim”. No caso do Frankenstein, essa tentaiva do homem de ser um Deus, resulta na criação um ser monstruoso. E nos casos dos outros filmes, podemos perceber artifícios analógicos ineficazes e artefatos computacionais para lidar com a genética.

A Paula também nos trouxe informações sobre as operações de transplantes de rosto feitas nos últimos anos, todas bem sucedidas, trazem consigo as discussões pertinentes ao futuro não muito distante. Assim como as cirugias plásticas, estes transplantes foram permitidos para casos reparadores. Com o tempo, as plásticas foram sendo banalizadas e hoje, qualquer pessoa com dinheiro pode mudar o que não gosta em si. Com a diminuição dos riscos, os transplantes de rosto poderiam virar operações de rotina? Se popularizado, deveria ser incorporado como uma opção?

Ela leu diversas citações dos médicos envolvidos, como um que defendia o “reencontro da dimensão estética da paciente”. Além dos obstáculos óbvios, de ética, moral e espiritual, existe a escassez de doadores, justamente por não ser algo comum, e porque o rosto está mais vinculado à indentidade do indivíduo do que outros órgãos.

Em um dos casos, a paciente desabafou depois de alguns meses: “Não sou eu, não é ela. É uma outra pessoa”.

Com uma pontada de saudade das aulas de “Programação de Realidade”, ouvi a Paula falar sobre reality shows de transformações, como as pessoas acreditam tornarem-se pessoas melhores ao alterar a sua aparência. Esta que uniformiza, dado o valor da imagem nesta cultura espetacularizada, somos o que conseguimos aparentar. Com todas as possibilidades de beleza do mercado, é culpa sua se é feia, pois toda mulher pode ser bonita. Sendo ainda a mulher o centro das atenções, o homem vem ganhando o seu espaço na busca pela beleza perfeita.

Deixamos de acreditar em uma natureza humana, o que pode ser encarado como algo positivo ou negativo, depende dos seus valores, o que daria uma discussão infinita. Depois das perguntas, falou-se também dos avanços técnicos para melhorar e não somente curar, e também como o conceito de normal tornou-se obsoleto, pois, se algo não é valorizado ou desejado deixa de ser normal.

Nota sobre o filme: a trilha sonora usada repetidamente me incomodou de forma anormal rs
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Próxima sessão do cineclube da Casa da Ciência: 07 de AGOSTO com o filme PI (1998) do DARREN ARONOFSKY, e o palestrante RICARDO KUBRUSLY com a palestra A BUSCA DO IMPOSSÍVEL (AINDA).

Um comentário:

MagicJetPack disse...

Po, parece ter sido legal a palestra. Queria ter ido. Não esquece de me lembrar da próxima =)