sexta-feira, 26 de julho de 2013

Jornal e livro

“O que eu quero dizer é que o mal não é radical (…) que não tem profundidade. O mal é um fenômeno superficial (…). Nós resistimos ao mal ao não sermos arrastados pela superfície das coisas, ao pararmos e começarmos a pensar, ou seja, ao alcançarmos uma outra dimensão que não o horizonte da vida cotidiana. Em outras palavras, quanto mais superficial alguém for, mais provável será que ele ceda ao mal” - Hannah Arendt a Samuel Grafton em 1963, sobre o nazismo.
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Sobre o hipnotismo: (…) “As pessoas sugestíveis são aquelas cujas almas indolentes ou que pouco têm evolvido não estão aptas para se desprenderem por si mesmas e agir utilmente no sono ordinário para restaurar as perdas do organismo”. (p.84)

DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. FEB, 1936.

sábado, 20 de julho de 2013

E daí?

Divertir-se não necessariamente passa pelo bom gosto. Talvez seja necessariamente o oposto.

Te Esperando
(Luan Santana)

Mesmo que você não caia na minha cantada
Mesmo que você conheça outro cara
Na fila de um banco
Um tal de Fernando
Um lance, assim
Sem graça
Mesmo que vocês fiquem sem se gostar
Mesmo que vocês casem sem se amar
E depois de seis meses
Um olhe pro outro
E aí, pois é
Sei lá
Mesmo que você suporte este casamento
Por causa dos filhos, por muito tempo
Dez, vinte, trinta anos
Até se assustar com os seus cabelos brancos
Um dia vai sentar numa cadeira de balanço
Vai lembrar do tempo em que tinha vinte anos
Vai lembrar de mim e se perguntar
Por onde esse cara deve estar?
E eu vou estar
Te esperando
Nem que já esteja velhinha gagá
Com noventa, viúva, sozinha
Não vou me importar
Vou ligar, te chamar pra sair
Namorar no sofá
Nem que seja além dessa vida
Eu vou estar
Te esperando



domingo, 14 de julho de 2013

Pitada de real

Real. Realeza. Minha companhia nesses dias, nesses meados de julho, é José e seu filho já falecido “Fantasma”(2001).

Na fila. Enfileirado. Dostoiésvski e seu duplo me esperam.

Daemon. Espírito. As pedras que no rio se encontram são lisas e reluzentes, frescas e de uma beleza estonteante. Esculpidas pelas águas do rio, ano após ano, suave que nem se sente, paciente, sempre a correr, sem questionar o por quê.
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E neste domingo qualquer, depois da festa que não fui, José, outro, disse-me “Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.” (p.62)

SARAMAGO, José. O Conto da Ilha Desconhecida. Companhia das Letras, 2003.

sábado, 13 de julho de 2013

Tentativa

Crianças sorridentes, aos montes, do outro lado da calçada. Quase todos desnudos, pobreza?
Da esquina, estranho. Ouço um movimento, e vejo o mesmo quadro do lado de cá da calçada. Arrastão. Como um fantasma, passeei pelas crianças, carentes? Medo.
Um corpo ao chão, um cachorro que se coça, dores pelo corpo, apatia do medo.
“Eles merecem morrer”, os ouvidos ouviram ao passar. Por que presenciei tal ato de violência? Eu, protegida que fui, vi. Calei. Não desejei as suas mortes. Perdoa-os, porque não sabem o que fazem. Temo pelos meus, temo por essas ovelhas desgarradas. Desconhecedoras das leis, crianças sem pai ou mãe.