sábado, 28 de julho de 2012

O nojo que me faz pensar


É muito difícil eu começar a ler um livro e desistir no meio do caminho. Até hoje, que eu me lembre, só ocorreu uma vez, com o livro “O mundo de Sofia”; tentei ler duas vezes, tendo avançado mais na última tentativa...eu devia ter meus 16 anos...Lembro que o motivo para largar o livro foi a sensação de ter descoberto o mistério no meio, talvez eu ainda o pegue para ler de novo.

Falo disso porque aconteceu novamente; peguei para ler um livro de contos do Edgar Allan Poe...eu lembro que sentia um certo prazer (doentio?) de ler contos bizarros, acho até que já tinha lido essa coleção de contos no passado, porém, atualmente, fico tão desgostosa que perdi a vontade de continuar. O nojo é mais forte do que eu.
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As leituras vão se atrasando um pouco por alguns motivos...ter a Dé em casa de férias...a chegada da Nikita...Animamundi 2012...virose...aniversário do meu pai...e os dias vão passando sem a gente perceber...
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Acho que para criar eu preciso estar lá fora.
No mundo,
No corpo a corpo,
Ouvindo e sentindo os outros vivendo.
As pessoas e suas vidas
Suas ideias e seus problemas
Suas opiniões e suas vivências
Que me impulsionam a reagir
Que me impulsionam a revidar com palavras.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Fim do ciclo


“A terceira conclusão é que a clarividência deve ser entendida como fenômeno anímico, ou seja, uma atividade do espírito encarnado e não uma faculdade mediúnica.” (pág.258)

MIRANDA, Hermínio Correia de. Diversidade dos carismas: teoria e prática da mediunidade. Vol.1-Niterói, RJ:Publicações Lachâtre, 1994.

Depois de um ciclo de 32 palestras, foi só no finalzinho que consegui começar a entender o conceito por trás da palavra “anímico”. Inicialmente, achava que era algo negativo, uma interferência do médium e que deveria ser evitada...com a leitura desse livro, pude perceber, além disso ter sido dito nas aulas, que o animismo é desejável para que os fenômenos aconteçam. No entanto, deve-se prestar atenção para não confundir o que é seu e o que é de outro espírito.

Nessa linha de raciocínio, eu sempre tive dúvidas sobre a origem de meus textos, muitos deles foram produtos de sentimentos e sensações que tanto poderiam ser meus quanto influências outras. Ainda nesse livro, deparei-me com a possibilidade ser sermos os medianeiros dos nossos próprios espíritos, ideias guardadas que conseguimos desenterrar de nós mesmos, de experiências de outras vidas...independentemente da razão, o resultado é sempre positivo.
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Qualidades de um bom médium
Rigorosamente falando, os bons médiuns são raros. A maioria, geralmente, apresenta um ou outro defeito que lhes diminui a qualidade de bons. O defeito, por pequeno que seja, é sempre de origem moral. Entretanto, o médium que reunir as cinco virtudes seguintes pode ser qualificado de bom: SERIEDADE, MODÉSTIA, DEVOTAMENTO, ABNEGAÇÃO e DESINTERÊSSE.

A seriedade é a virtude que um médium possui de utilizar sua mediunidade para fins verdadeiramente úteis, exercendo-a como um nobre sacerdócio.

A modéstia é a virtude pela qual um médium reconhece que é um simples instrumento da vontade do Senhor e, por isso, não se envaidece nem se orgulha de sua mediunidade. Não faz alarde das comunicações que recebe, porque sabe que foi apenas um simples intermediário. Não se julga ao abrigo das mistificações e, quando é mistificado, compreende que isso aconteceu em virtude das falhas de seu caráter ou devido a algum erro de sua conduta; procura, então, corrigir-se para afastar de si os espíritos mistificadores.

O devotamento é a virtude pela qual um médium se dedica ardentemente ao benefício de seus irmãos que sofrem. O médium devotado considera-se um servo do Senhor e, por isso, não despreza nenhuma oportunidade de servilo, auxiliando a todos quantos necessitam dos cuidados dos espíritos de Deus.

A abnegação é a virtude pela qual um médium leva seu devotamento até ao sacrifício. O médium abnegado não hesita em renunciar a seus prazeres, a seus hábitos, a seus gostos, quando se trata de prestar socorros mediúnicos a quem quer que seja.

O desinteresse é a virtude pela qual um médium dá de graça o que de graça recebeu. O médium desinteressado nem mesmo esperará um agradecimento dos homens.

Eis expostas as cinco virtudes que devemos cultivar, se quisermos merecer o qualificativo de bons médiuns. (pág.39)

RIGONATTI, Eliseu. Mediunidade Sem Lágrimas. Lake – Livraria Allan Kardec Ed., 1975.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dias atrás


Ria com todos os mesmos risos. Até mudar. Até trocar seus olhos por outros. Até trocar o leviano pelo sério. Vibrava com o sublime, vibrava com o sutil. Ironia nunca mais? Ironia inteligente até pode desde que não machuque.
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Nada de psicografia, nada de sono também. Onde está a alegria de viver como quem tem. Desgarro do que eu era, sem saber bem o que vem.
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Prolongar a felicidade tem sido um pouco difícil. Novidades, por favor?

domingo, 15 de julho de 2012

Ferrugem


Faz tanto tempo...
15/07/12

Olho e nada vejo
Toco e nada sinto

Nem lembro o que
me fazia sorrir
Nem lembro o que
me fazia ser feliz

Névoa entorpecente
que aprisiona
que amedronta

Vida fácil?
Moral em cacos

Sete noites sem dormir
Sete pecados a se fugir

Linhas tortas
Melancolia a toda

A toa sem se mexer
Correndo de um lado a outro
O que posso fazer?

Mutilo a alma de novo
Alma que pede ação
Alma que pede canção

Música que toca ao céu
Começando aqui do chão

Não engulo mais de tudo
E isso só traz confusão

Vida difícil?
Alma que sangra

Oro e tudo melhora
mas a impaciência chora

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Nikita


Temos um novo membro na família! Nikita Sukita tem esgotado minha energia e boa parte do meu tempo. Nas primeiras noites, ela acordou algumas vezes; eu tinha esquecido como a privação do sono pode ter tanto impacto no humor...mas ver aquela bolinha de pelos saltando como um carneirinho derrete o coração de qualquer um. Hehe

Ela veio com uns carrapatos, então, na primeira consulta com o veterinário, ele já passou um remédio para isso e diagnosticou uma anemia consequência ou dos carrapatos ou de vermes. Ela tomou ainda uma segunda dose de vermífugo e descobrimos que ela tem uma hérnia umbilical, que teremos que lidar futuramente.

Por conta dela, também, a rotina do povo mudou drasticamente, e a mudança atingiu em cheio meus afazeres, portanto, ando meio baratinada, sem muito chão para pisar...

Noite passada, ela quase não chorou e não tive que levar ela pra cozinha. Quando não tiramos ela do cercado, ela começa a uivar e quando o som bate na traqueia dela faz tipo um som de pombo, muito engraçado rs

Agora mesmo estava para postar sobre ela, e a bonitinha pintou e bordou aqui, bem violenta com os seus dentes de bebê finos, mas destruidores. Corre de um lado para o outro sem parar.  Quando chego e ela está fazendo o que não devia, sai correndo como uma criança sapeca, do tipo “me pegaram no flagra!”. Também, hoje, a peguei se escondendo atrás da cortina, parecia brincar de pique-esconde rs

Mais tarde eu posto uma foto dela xD

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Novo fogo


Já tem algum tempo que a vida vem apresentando situações em que me percebo fazendo escolhas que me dão a sensação de serem sem volta. Vez ou outra sinto uma certa sufocação por conta disso. Bem...talvez sufocação não seja a palavra...eu sinto...uma perda, como se pedaços de mim fossem sendo deixados pelo caminho, deixamos no passado. O controle toma proporções nunca antes imaginadas.

Adentro uma vida que exige limpeza em todo e qualquer nível, e a força de vontade precisa ser atingida, outros dependem de você. Você depende de você mesmo para atingir as sensações de transcendência. Buscar dentro de si o que está adormecido. Não me permito sentir o que é leviano, é proibido porque atrapalha a ascensão. Imponho a entrega e exijo o melhor, sempre mais do que antes atingido. Caminho aos tropeços. Sem problemas, faz parte. Quando acerto, a inspiração para continuar a tentar parece vir ao meu auxílio.

Antes, eu tinha dúvidas quanto a deixa-me sentir tudo de forma livre ou não, ficava entre ser o que a humanidade nos instiga ou seguir o que o meu espírito trazia de algum lugar. Hoje, enxergo o controle como treinamento que facilita o trabalho, seja ele atingir metas ou um nível ótimo de relacionamento. Enquanto uns se perdem nas sensações, sigo o caminho de trocá-las por outras. A dificuldade está em esquecer tudo de mais baixo nível a que já se foi exposta. Recondicionar a mente para se melhorar e ensinar. Encontro-me permitindo ou não o que posso sentir para manter o equilíbrio, tão exigido pelas tarefas.

Com isso, distancio-me de tudo e qualquer coisa, o prazer muda de foco e, a busca por prazeres outros se faz incessante. A adaptação ao novo estilo de vida é árdua, é preciso entusiasmo e alegria, exigências das escolhas. Forço-me ao limite e acabo descobrindo que posso cada vez mais. As conquistas animam e incentivam. A criação encontra nova barreira, não posso mais escrever qualquer coisa, porque antigos combustíveis foram substituídos por novos conceitos. Novos assuntos, novas abordagens, ainda luto com isso. Ainda luto por encontrar um fogo possível na nova realidade.
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Ser testemunha ("madrinha") no casamento da sua melhor amiga #nãotempreço‬ xD Ótima semana - parte 1.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Ontem, sexta passada e hoje


Nós três assistíamos Carrossel ontem, quando a professora Helena falou assim para a classe:
- Eu vou sair da sala, quero que vocês façam um resumo da aula de hoje.
Não é que a Dé respondeu:
- Ah, não!
E eu retruquei:
- Ela não está falando com você. Você não precisa fazer o resumo.
Rimos à beça.
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Mais coincidências: na reunião de sexta-feira, o livro que eu tinha acabado de devolver à biblioteca foi mencionado. Sorriso número um. :) O livro novo que peguei tem por número de catálogo 297, e não é que esse foi o número da questão do estudo da noite?! Sorriso número dois. :))
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Depois de meses, peguei para rever o último episódio da temporada passada de Castle. Acho que foi o finale mais sem graça desses 4 anos. Patético ver a Beckett apanhando e rever, pela quarta vez, a cena de um deixando o outro. Espero que no final da quinta temporada, isso não seja evocado novamente. Castle já foi muito bom.

domingo, 1 de julho de 2012

Troca e irmãs


VERCHININ (passeando pela sala)
Muitas vezes penso: e se recomeçássemos a vida, desta vez conscientemente? Se vivêssemos uma vida como quem faz um rascunho, e pudéssemos vivê-la de novo passada a limpo? Então cada um de nós teria sobretudo tentado não se repetir e tentado criar condições de vida diferentes, uma casa florida, como esta, cheia de claridade...Tenho mulher, duas filhinhas...Mas minha mulher não tem saúde, etc etc etc...Então, se eu recomeçasse minha vida, não me casaria nunca. Nunca! (Entra Kulyguin com seu uniforme de professor de liceu). (pág.33)

ANDREI
Em Moscou, sentamo-nos em uma imensa sala de restaurante, sem conhecermos ninguém, sem que ninguém nos conheça, e, no entanto, não nos sentimos deslocados. Aqui, conhecemos todo mundo, todo mundo nos conhece e, no entanto, nos sentimos estrangeiros. Estrangeiros e solitários. (págs.53 e 54)

MACHA
Parece-me que todo homem deve ter uma fé, ou deve procurar uma fé, sem a qual sua vida torna-se vazia, vazia...Viver sem saber por que voam as cegonhas, por que nascem as crianças, por que há estrelas no céu...Não! Ou sabemos por que se vive, ou tudo não passará de ninharias atiradas ao léu...(pág.65)

TUSENBACH
Pois é isto...(Levanta-se) Sei que não sou belo, que não fui feito para ser militar. Enfim, as coisas são como são...Trabalharei. Se eu pudesse, uma única vez na vida., trabalhar por um dia a ponto de chegar em casa, à noite, arrasado de cansaço, cansaço de me atirar na cama e me fazer dormir imediatamente...(Dirige-se para a sala) Os operários devem dormir profundamente. (pág.66)

TCHEBUTYKIN (sinistro)
Que o diabo os leve a todos. Acreditam que sou um médico, que sei curar toda espécies de doenças, mas eu sei que esqueci tudo quanto sabia, que não me lembro de nada...de nada, de nada. (Olga e Natasha saem, sem que ele perceba) O diabo que os carregue. Quarta-feira passada, atendi a uma mulher, que morreu, e foi por minha culpa que morreu. Sim, culpa minha. Há vinte e cinco anos eu ainda sabia algumas coisinhas...Agora, não me lembro de nada. De nada. É bem possível que eu nem seja mesmo um homem, que eu apenas aparente ter pernas, braços e uma cabeça. Bem possível que eu não exita e somente imagine que ando, como e durmo. (Chora) Ah! Se, ao menos, pudéssemos não existir!...(Deixa de chorar e toma um ar sinistro) Que diabo! Antontem, conversava-se no clube sobre Shakespeare, Voltaire...Jamais os li, mas fiz um ar de ter lido. E todos os outros eram como eu. Que vulgaridade! Que baixeza! Revi a mulher que deixei morrer, quarta-feira. Revi...sim, revi tudo. E senti meu coração doer, pesado de nojo e de imundície...Então, corri a embriagar-me. (Entram Irina, Verchinin e Tusenbach, este à paisana, com uma roupa nova e na moda) (págs. 96 e 97)

VERCHININ
Bem...(Rindo) Quando pensamos em certas coisas, vemos o quanto tudo aqui é estranho. (Pausa) Logo que o incêndio começou, corri para minha casa. Chego e vejo que o prédio nada sofreu, que não está ameaçado. Mas encontro minhas filhas à porta, de camisola, e sua mãe não está lá. Em torno delas há pessoas que se agitam...cavalos, cães que correm, e no rosto das meninas havia uma tal expressão de inquietação, de terror, de súplica, de não sei o quê...Quando vi seus rostos, meu coração se confrangeu. Meu Deus, disse a mim mesmo, o que essas crianças terão de viver ainda, no decorrer de uma longa vida! Tomei-as nos braços, corri com elas...corri com elas, pensando apenas uma coisa: no que elas terão ainda a viver neste mundo infame. (Ouve-se o sino e logo em seguida há um momento de silêncio) Quando aqui cheguei, encontrei a mãe delas gritando, vituperando.(Macha entra, com seu travesseiro, e senta-se no divã) Vendo minhas filhas de camisola no degrau da porta, e a rua vermelha de incêndio, e o ruído terrível, pensei que isso deveria assemelhar-se ao que se passava, há muitos anos, quando o inimigo irrompia subitamente e pilhava e incendiava. No entanto, que difenreça entre o que foi e o que é! O tempo continuará a passar...apenas duzentos ou trezentos anos...e nossa vida atual parecerá então espantosa e dela rirão...e tudo quanto é o nosso presente será olhado como desastroso, pesado, muito incômodo e estranho. Ah! Que vida vai ser, que vida! (Ri) Perdão, estou filosofando. Permitam-me continuar. Sinto uma necessidade imensa de filosofar, estou em clima de filosofar. (Silêncio) Dir-se-ia que a humanidade toda dorme. E pensava: que vida será essa...a que vai vir...? Reflitam, porém: mulheres como vocês há apenas três nesta cidade. Mas, nas próximas gerações, haverá outras, e outras, e muitas outras...E há de chegar o tempo em que tudo estará mudado, no sentido que vocês têm das coisas...Um tempo em que se viverá como vocês vivem...Até que, mais tarde, vocês serão também ultrapassadas, porque nascerão seres muito melhores...(Ri) Estou hoje em um estranho estado de espírito...Sinto uma diabólica vontade de rir...(Canta) 'Tout âge a ses amours pour maître...Leurs feux nous font toujour renître...'* (Ri) (pág.102)

* 'Qualquer idade tem por mestre seus amores....Sempre nos fazem renascer seus ardores...' Trecho de uma ária da ópera Eugênio Oneguin, de Tchaikóvski.

TUSENBACH (com um gesto de impaciência)
Daqui a uma hora estarei de volta e de novo contigo. (Beija a mão) Minha bem amada...(Olha-a atentamente) Há cinco anos eu te amo e não consigo habituar-me...Sempre me pareces cada vez mais bela! Estess adoráveis e maravilhosos cabelos! Estes olhos! Amanhã eu te levarei daqui. Vamos trabalahr, seremos cumulados de alegrias, meu sonhos se tornarão realdade. E tu serás feliz. Há apenas uma coisa, uma simples coisa: não me amas. (pág.135)

ANDREI
Oh! Para onde partiste, meu passado? Onde estás? E era jovem, inteligente, sonhava, pensava belas coisas, presente e futuro iluminavam-se de esperanças...Por que, mal começamos a viver, eis-nos mortos, fracos, chatos, preguiçosos, indiferentes, inúteis, desgraçados?...Nossa cidade existe há duzentos anos, tem cem mil habitantes e não há nenhum entre nós que não seja semelhante a todos...Nem mesmo um herói, no passado ou no presente. Nem mesmo um sábio...Nem ao menos um pintor...Nem sequer um só homem notável em qualquer coisa sque excite a inveja ou o desejo apaixonado de imitá-lo. Nada se faz, além de comer e beber, dormir e depois morrer...Outros nascem e, também esses, comem, bebem e dormem e, para que o tédio não os embruteça definitivamente, põem variedades em suas vidas, como mexericos, infames, vodka, jogo, chicanas...e as mulheres enganam os maridos, os maridos mentem e fingem que nada percebem, e essa influência irresistívelmente vulgar pesa sobre as crianças, sufoca a centelha divina que vivia dentro delas...e elas se tornam cadáveres, tão miseráveis como seus pais e suas mães...(A Feraponte, com mau humor) Que queres comigo? (pág.138)

TCHEKHOV, Anton. As Três Irmãs. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
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Eu já falei pra Dé, nessa vida trocamos o que já aprendemos, ela me ensina a ser mais amorosa e eu ensino ela a ser mais responsável.