sexta-feira, 29 de março de 2013

Filtro é tudo

29/03/13

Com estes olhos vejo o perigo
Tenho-os bem abertos
E desejaria fechá-los
Com toda força, mesmo arrancá-los.

Vejo sujeira
E um mundo imundo

Meu jardim florido e perfumado
Seguro e bem amado
Rareia, manchado.

Queria uma vida simples,
Ingênua, pura de sentidos.

Sinto o gosto do veneno pelos olhos,
Ouço cenas, traumatizo
Tremo pelo o que me entristece
Torço para esquecer o que me fere.

sábado, 23 de março de 2013

Metrô de sábado

Estávamos opostos – você alto, a perder de vista, e físico magro; eu pequena, desamparada. Não tínhamos nada a falar, estranhos que éramos um para o outro. Apenas o seu olhar chegava até mim, perfurante e incômodo. Energia tão intensa e vidrada, desarmáva-me, sugava o ar do ambiente. Nem cinco minutos no mesmo recinto, e eu já apelava para o Pai: estou morrendo. A ajuda então veio, suave e eficiente.
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Nunca mais quero te ver
(Não consigo viver sem você)

Duas estrofes solitárias que não foram além, e marcam o desgaste de todos nós.
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Leiam: Bartolomeu Campos de Queirós.

terça-feira, 12 de março de 2013

Estátua

10/3/13

Sua brancura reluzia
Tanto de noite quanto de dia
Ao luar e ao meio-dia

Sua pele lisa e dura
Muda
Quente e depois fria

De joelhos, mãos em súplica
Rosto voltado para os céus
Aguentando chuvas e ventos

Ouvia, por ali estar,
os gemidos de dor
Os pedidos cheios de rancor

“Por que você não responde?
E age assim tão parada;
tão estátua? Seu coração é
de pedra?

Eu falo, falo e falo
E você não se mexe!
Se deixa estar no silêncio
Acima de tudo e de todos

Por que você não responde
de qualquer jeito que seja?
Assim, calada e sem cor,
petrificada!
seu destino será esse mesmo:
ser só”

Dias e noites passaram
para a estátua e para o homem
Para anos enfim ele voltar e
encontrar...

Uma estátua ainda reluzente
E um novo adorno, um presente:
em suas mãos,
também de pedra,
um passarinho.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Parto

Fico assim brigada comigo e com o outro que espeta. Para logo em seguida agradecer o murro. Vivo buscando o equilíbrio quando é na queda que aprendo. Esse sobe e desce necessário. Então não devo procurar prolongar o que almejo e alcanço? Aprendi nesse segundo e no próximo já estou devendo aprendizagem – as lições se amontoam. Dou um passo e pressinto o que ainda novo desconheço. Deslumbro-me com a riqueza da vida. Choro com personagens que passam, mesmo que os temas nada tenham a ver com o meu motivo para estar emocionada. Temas que, na verdade, são um só. Choro ao ouvir uma palavra: “coragem” - de olhos fechados, em prece. Porque tal som, tal sentido me atinge. Meu corpo parece saber mais do que eu. Ele me sinaliza o que me toca e eu nem desconfio. Essa energia que me falta para dar mais um passo, imagino que doloroso. Desconfio do que seja, não há como ter certeza. Mais uma crise borbulhante, mais uma ruptura com o que não mais pode habitar em mim. Sem saber o que é. Algo quase pronto, quase transmutado. Uma quase vitória que pulsa e pede: muda-te. Mais uma peça que encaixo, menos uma peça para montar o todo.

domingo, 10 de março de 2013

Eu alógico

10/3/12

Vejo e reflito
Não falo

Sinto e sofro
Sorrio ao espelho

Escrevo
Penso e repenso

Não compartilho, digo, comunico
Ajo: ação que fala por si

Ensino e estou presente
Apoio pelo olhar

Acolho pelo toque
Não me dirijo a

Sou para quem quiser
ser comigo

Não há compromisso
Vamos viver

Sem palavras

sexta-feira, 8 de março de 2013

Vo-ar

(…) “Você tem de treinar até ver a verdadeira gaivota, o que há de bom em cada uma delas, e ajudá-las a ver isso nelas próprias. Para mim, o amor é isso.”(pág.144)

(…) “Não creia no que os seus olhos lhe dizem. Tudo que mostram é limitação.” (pág.146)

BACH, Richard. Fernão Capelo Gaivota. Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974.
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O cansaço do dia-a-dia pode até ser poético, mas sinto falta do produto do ócio e da busca.

sábado, 2 de março de 2013

Enigma

Resposta enigmática do ano de 2109:

“David
Mais respostas do que perguntas feitas. Mas quais são as perguntas corretas. Um homem não pode fazer perguntas quando é provável que não entenda as respostas. Sim, você está certo em dizer que não se aprende sem fazer perguntas, mas há um tempo para compreender e um tempo para andar às cegas. Um homem faminto não comerá frutos maus, pois certamente morrerá. Foi a fruta que matou esse home ou foi o conhecimento de que a fruta estava lá para ser apanhada. Não perca tempo perguntando se a árvore que produz esses frutos está na sua frente. É melhor não ter uma visão distorcida da verdade. Devido à sua falta de compreensão. Nós, o 2109, não temos falta de compaixão, mas caso continuar rompendo nossos experimentos, é provável que encontraá o seu destino. Todavia lhe permitiremos mais uma comunicação, para que faça suas perguntas profundas. Responderemos do modo que desejar, se for em termos de física, então será assim, mas lembre-se: nossos limites são estabelecidos pelas suas próprias habilidades, e não por nossas. Não há ninguém por detrás do homem que vocês chamam de Lukas. O fator casual não ocorrerá novamente num espaço de tempo relativo à sua espécie.”

WEBSTER, Ken. Os mortos comunicam-se por computador? Ed. EDICEL, 1999.
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Às vezes, eu paro e penso, ou melhor, sinto. Parece que vou conseguir formar um pensamento sobre algum assunto...e a sensação vai embora.
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Já tem um tempo que tenho sentido minhas vivências com um certo sentimento de dúvida, do tipo, “será que isso aconteceu mesmo?”. É estranhíssimo. Como se tivesse acontecido com outra pessoa e eu estivesse apenas presente, observando. Os acontecimentos não marcam de forma profunda..., talvez porque aconteçam de forma esporádica. Talvez as experiências do cotidiano, com as pessoas que sempre se vê, tenham uma força maior, pois estamos sempre reforçando os fatos. É difícil digerir sensações e sentimentos fugidios.
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Descrição do que sinto em relação ao trabalho: “podia ser terrível, mas é ótimo!”. Imagina se estou gostando?! rs