terça-feira, 8 de setembro de 2009

Casa da Ciência - Teorema (1968)

Impressionante como um filme sem contextualização perde toda a sua força. Ao final da sessão eu não sabia o que fazer com aquele grito que ainda ecoava, proferido por um burguês pelado no meio do deserto. Coisa de maluco. Mais uma vez fomos informados da estética peculiar do diretor, e como Pasolini era detestado pela Igreja, só por isso eu já sabia que vinha algo estranho.

A palestrante da vez foi a Tatiana Roque do Instituto de Matemática da UFRJ, e confesso que antes dela começar a sua fala, eu estava um pouco descrente que alguém da área de exatas pudesse analisar algo tão humano. E eu não poderia estar mais enganada, fiquei boquiaberta quando ela mostrou-se conhecedora de diversas áreas acadêmicas *. Eu gosto quando minhas expectativas são superadas!

A palestra foi intitulada: “Teorema x Problema: Uma Questão Fundamental”, em que ela se propôs a discutir o título do filme, mas não sem antes nos deixar a par das questões pretendidas pelo diretor. No filme, um visitante, que não sabemos de onde vem, destrói o equilíbrio de uma família burguesa, um visitante que se apresenta cheio de amor e generosidade e que não se enquadra em nenhum tipo de relação que conhecemos.

A discussão que o filme evoca, diz respeito à nova realidade do mundo, em que os operários começavam a virar pequeno burguês, um mundo em que a luta de classes começava a fica confusa, um mundo em que novas perguntas deveriam ser formuladas, os papéis não mais faziam sentido. Quando o visitante deixa a casa, cada personagem se vê em busca do elemento perdido, reagindo de diversas formas, cada uma mais estranha que a outra.

Quanto ao nome “Teorema”, a Tatiana explicou que de acordo com a concepção de problema de Deleuze, o filme deveria se chamar “Problema”, porque o teorema define propriedades eternas para um dado problema, algo inabalável e que funcionará sempre. Neste sentido, o filme não é amarrado, e o grito no final representaria um vazio, uma falta de sentimento, mas que deixa em suspensão e em aberto os problemas e soluções.

Deleuze encara o problema como aprendizado eterno, que insiste, transcende a solução, de diferente natureza e que não desaparece independentemente da solução que encontramos. Não há conhecimento sem problema.

Um senhor cismou de comparar o Pasolini com o Hitchcock, e tentou diminuí-lo argumentando que ele não conseguiu fazer um cinema bem sucedido, que não sabia dirigir atores, que não conseguiu nada com o filme. E lá foi a Tatiana com a maior paciência do mundo, em defesa do Pasolini, explicar que ele tinha uma proposta diferente de um Hitchcock, e que ele não tinha intenção nenhuma de fazer algo igual. É difícil lidar com gente assim de antolhos.

* Ela é também doutora em Filosofia.
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Próxima sessão do cineclube da Casa da Ciência: 03 de OUTUBRO com o filme CIDADE DAS SOMBRAS (1998) do ALEX PROYAS e o palestrante FERNANDO VIDAL.

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessante! Vou procurar esse filme. abrs

MagicJetPack disse...

Interessante. Tenho que ver um dia essa tal Casa da Ciência.

E que preconceito é esse com o pessoal de exatas? XD