quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Casa da Ciência – Profissão: Repórter (1975)

Alguns filmes precisam de um pouco mais de força de vontade para serem assistidos, lembro que foi assim com “Solaris”(1972). Com este filme do Antonioni, percebi uma certa ansiedade por parte de alguns, tédio por parte de outros, vi gente dormindo, vi gente saindo com 15 minutos de filme. Eu fiquei lá, firme e forte, e a palestra não poderia ter sido mais proveitosa!

O professor Paulo tinha como tema “a relação sujeito-objeto” e fez algumas colocações antes de abrir para o debate. Começou descrevendo o filme como um falso filme de ação, espionagem e road movie. Temos o personagem principal, Locke, buscando encontrar uma identidade para si; insatisfeito consigo mesmo rouba a identidade de outro, ao invés de se reinventar.

Locke não consegue se desvencilhar da angústia diante da banalidade do cotidiano e enxerga no outro uma vontade de viver que lhe falta. Não consegue se conectar com a sociedade, e procura, na troca de identidades, fugir do esvaziamento, busca reintegrar-se ao mundo, mesmo estando sem desejo. Ele inveja o pragmatismo no outro e que não consegue assumir.

Falou-se ainda do deserto como o locus existencial, que representa o esvaziamento sentido por Locke. A mocinha poderia ser uma possibilidade de salvação, mas Locke sente que é tarde demais. Algumas pessoas enxergaram o final do filme como uma redenção e outros como um fracasso. Têm-se três mortes: a existencial, a civil e a física. Achei curioso que o Locke morre da mesma forma que o Robertson, aquele de quem ele roubou a identidade.

Uma cena bastante curiosa é a da esposa que não reconhece o Locke ao vê-lo estirado na cama, e a mocinha o reconhece. O filme claramente representa um sentimento de uma época que precisava desesperadamente de novos valores e motivos para viver, acredito que os otimistas tenham encontrado algo, já os pessimistas...
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Palestrante Paulo Domenech Oneto, Doutor em Filosofia pela Univ. de Nice, França, e Literatura Comparada pela Univ. da Georgia, E.U.A., professor da Escola de Comunicação da UFRJ -ECO/UFRJ

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