segunda-feira, 16 de maio de 2011

Imagética

“Ela beijou-me como se aquele fosse o nosso primeiro e último beijo. Eu podia sentir a ardência de sua paixão pelo calor que nossos corpos trocavam ao se encaixarem naquela tarde fria. E, ao mesmo tempo que ardíamos, ela arrancou o meu coração ainda batendo, jogou no chão e o pisou, antes mesmo de eu conseguir tomar o meu fôlego”.
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Meu mestre do Kung Fu estava nos ensinando, dia desses, a respiração do sininho de ouro. Uma parte do pessoal sentiu uma força descomunal nos movimentos, eu não senti nada. Talvez porque eu estivesse prestando atenção para fazer os movimentos corretamente, eu encontrava-me fora de mim e não dentro. E ele começou a falar mais sobre suas experiências com a luta, até que disse que a paixão é o desequilíbrio. E que nós, em qualquer área de nossas vidas, devemos buscar o equilíbrio. Eu concordo plenamente, mas onde fica a paixão que nos move? Só podemos encontrar o equilíbrio depois que o perdemos, e a paixão é esse combustível. Se estamos então em paz com tudo e todos, acho que não precisamos mais estar aqui, a lição terá sido aprendida. Mas eu ainda gosto e preciso da paixão, por isso ainda caminho por aqui.
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‘Bem, os séculos vão passando, chegará o meu, e passará também, até o último, que me dará a decifração da eternidade’. (pág.21)

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo, SP: Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda., 2007.

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