terça-feira, 13 de julho de 2010

Boa literatura

Que pecado teria sido devolver o livro de Clarice sem tê-lo lido! Fico impressionada com a precisão dela em descrever sensações, com o seu conhecimento sobre o que me corrói e que provavelmente a corroia também. Não tenho dúvidas de que ela era uma pessoa intensa, as suas obras transbordam intensidade! Como se cada frase fosse a última que pronunciaria...

“- Que é que eu faço, é de noite e eu estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro”, falou Lóri ao telefone para Ulisses.

Lóri me é tão familiar, como se ela tivesse esperado o momento certo para se desvendar para mim. Eu sou um pouco dos dois, Lóri e Ulisses.

“Nesta mesma noite gaguejara uma prece para o Deus e para si mesma: alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo,(...)”

LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Nova Fronteira, 1982.

Um comentário:

MagicJetPack disse...

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