sexta-feira, 12 de junho de 2009

Estudo I: definindo termos: o imperativo ascético

O efeito da ritalina deve acabar daqui a umas duas horas, então pensei em definir alguns termos-chave que servirão para eu redigir minha prova de TEORIAS DO CONTEMPORÂNEO na quinta-feira próxima.

Primeiro tenho que entender o que são práticas ascéticas. Pelo dicionário, ascese é o exercício prático que leva à efetiva realização da virtude. Partindo agora do texto* lido, é feita a diferença entre os objetivos dessas práticas na Antiguidade, que envolviam liberdade, e hoje, com as bioasceses contemporâneas, que envolvem o “assujeitamento” e disciplinamento, um desdobramento do bio-poder, este fundamentado por Foucault.

A ascese implica em um processo de subjetivação que ao longo do tempo vem se modificando, ao acompanhar as mudanças de comportamento e sociabilidade do homem. Na Antiguidade, as práticas ascéticas representavam uma forma de resistência cultural, uma vontade de demarcação, singularização e alteridade, enquanto hoje, as bioasceses representam uma vontade de uniformidade, adaptação à norma, de existências conformistas e egoístas, visando produzir saúde e o corpo perfeito.

A ascese implica também na delimitação e reestruturação das relações sociais. Antes, o que estimularia a prática ascética seria superar o conflito com os arranjos sociais dominantes, ao criar vínculos alternativos, assim como outro universo simbólico. As biossociabilidades de hoje, visam o narcisismo conformista e o abandono do mundo.

A ascese ainda pode ser entendida como um fenômeno social e político, pois ao cuidar de si, se intensifica as relações sociais. Podemos claramente perceber como isso não se aplica hoje, sendo o indivíduo despolitizado e interagindo com o outro não para dar ou receber suporte; o corpo assume o lugar do outro, do cúmplice, porque não confiamos e temos aversão à dependência.

Por último, a ascese está ligada à vontade livre. Mediante o exercício ascético, o asceta recupera o conhecimento e pode exercer a vontade de forma correta. O termo estulto caracteriza aquele que não cuida de si, que tem fraqueza de vontade, esta limitada e fragmentada. É uma questão de atenção, vigilância, constância e concentração atlética. Nas bioaceses modernas, a vontade não está a serviço da liberdade, ela é serva da ciência e da necessidade.

Para Valantasis, “o ascetismo pode ser definido como as performances em um meio social dominante com a intenção de inaugurar uma nova subjetividade, relações sociais diferentes e um universo simbólico alternativo”. O termo “alternativo” deve ser modificado, de acordo com Ortega, pois a prática ascética nas bioaceses modernas se aplica a um universo dominante, tendo a ascese um caráter mais próximo da disciplina.

Para Foucault, ascético é “o conjunto ordenado de exercícios disponíveis, recomendados e até obrigatórios, utilizáveis pelos indivíduos num sistema moral, filosófico e religioso para atingir um objetivo espiritual específico”.

A definição de ascese não se reduz a essas dos parágrafos anteriores, mas elas são suficientes e amplas para o estudo proposto.

Bom, esse foi só o início, a introdução, e já ajudou bastante a internalizar alguns conceitos. O chato é que a professora nem quer que dissertemos o que foi lido com nossas palavras, ela quer mais, quer que escrevamos nossas opiniões a partir do que lemos. Esse trabalho todo faz só parte do processo e nem garante uma boa nota no final, isso que frustra. Felizmente o assunto é interessante e fica a sensação de que estou ganhando com nota boa ou não.

Postagem GIGAMENSA o.O
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*ORTEGA, Francisco. O corpo incerto: corporeidade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Garamond, 2008.

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