segunda-feira, 7 de maio de 2012

Casa da Ciência – As Hiper Mulheres (2011)


Gostei do filme, ao mesmo tempo que senti uma certa nostalgia de quando ouvia sobre os índios na escola, senti-me, também, mais próxima daqueles seres humanos que vivem de forma tão diferente; a sensação de perto e distante ficou bem aflorada em mim. Além do filme ser divertido e curioso! A palestra: “A Potência de um Filme Comum”. O palestrante: Cezar Migliorin. Ele desenvolveu sua fala sobre o filme dentro de duas linhas: uma histórica e outra dentro do cinema contemporâneo brasileiro.

Começando por situá-lo dentro do cinema brasileiro, o filme retoma a questão indígena com uma narrativa e força performáticas. Percebemos a encenação, a relação intensa, a colaboração entre os índios e os realizadores do filme. Os índios são agentes e participantes e não só objeto a ser filmado.

Dentro da linha histórica, o Cezar, relacionou “As hiper mulheres” com o cinema depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente com a estética de Jean Rouch. O cinema se escondia para não interferir na integralidade do objeto antropológico em estudo. No filme presente, há personagens não humanos que também constroem a imagem, como o gravador, por exemplo.

O filme em questão, pode, então ser dividido em dois momentos; primeiro uma pequena presença do cantar e dançar e, segundo, seis meses depois, com a intensificação do canto e da dança. No início, somos colocados no lugar do teleespectador pelas regras clássicas do cinema e, posteriormente, essas regras são deixadas de lado. Temos o narrador dentro da cena.

O Cezar falou também de um termo usado no cinema – “pulo do eixo” – erro ao se gravar a cena, e que causa um estranhamento, quando num plano um olha para direita e no plano seguinte, na sequência, um deve olhar para esquerda, fazendo essa ligação entre as cenas.

A ficção atravessada pela intimidade entre filmados e filmantes torna o filme diferente, este se faz desorganizando o cinema clássico. E em dado momento, temos o “pacto do documentário” quando uma das índias se encontra doente.

Temos a rememoração quando o homem e a máquina se unem. No segundo momento do filme, percebemos a câmera fluindo com liberdade.

Para finalizar a parte histórica, o Cezar falou de cinco pontos, resumindo suas percepções: 1) o fazer o filme sem limites entre os personagens e quem faz o filme;2) a imagem como ativadora do processo; 3) o cinema e a tecnologia como dispositivos da invenção da tradição; 4) a ficção como funcdamental para criar a realidade e 5) interpretar a própria vida para reconfigurar a cena. E em suas palavras, concluiu, “ao refazer-se a cena, cria-se a comunidade”.
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Palestrante Cezar Migliorin – Doutor em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ/Sorbonne-Nouvelle, Paris, ensaísta e professor do Departamento de Cinema e Vídeo da UFF. Organizador do livro Ensaios no Real: o documentário brasileiro hoje.

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