domingo, 15 de abril de 2012

Problema da semana, Huxley.

Semana difícil; sábado meu corpo parecia desencontrado com o meu espírito, vagava, buscando algo em que me segurar. Na fila da loja um homem impaciente. Antes que o caixa pudesse gritar “próximo” - ele arrumava papéis - o impaciente fez-se ouvir com sua voz grave e seu tom agressivo:


- O caixa vagou, você vai ou não?!

Como se fosse a minha obrigação sair correndo, como se ele tivesse o direito de passar a minha frente por ele ser impaciente. Não consegui articular o dircurso, nem olhei para o dono da voz (um gigante por sinal), meu corpo simplesmente moveu-se lentamente pelo curto caminho. Cheguei ao caixa e esperei pacientemente, sorri meio sem vida.


Ao longo daquela noite fui conseguindo reconstruir os destroços do meu ser, faltava-me ao que me agarrar, apaixonadamente. Algumas linhas ajudaram. Pensar em amigos ajudou. Interagir com velhos amigos ajudou. Assim como estar com aqueles que sofrem para valorizar o que se tem.


Domingo, já um pouco melhor, com um melhor sentimento de confiança, fé no desconhecido, mais uma porrada para me fazer enxergar a importância da força por detrás da certeza de seus valores.


O problema que me deparo é o seguinte: como argumentar de forma a convencer quanto ao certo e ao errado? Terrível tarefa (e estafante) quando se fala de sentimentos e sensações sutis.

.

.

“– Pobres velhos! – comentou Philip quando se viram, ele e a mulher, a distância de não serem ouvidos. – A respeito de que poderiam eles estar conversando? São velhos demais para falar de amor – velhos e bons demais. Demasiadamente ricos para falar de dinheiro. Demasiadamente intelectuais para falar das outras pessoas e demasiadamente eremitas para conhecer pessoas de quem possam falar. Tímidos demais para falar de si mesmos, demasiado inexperientes para falar da vida ou mesmo da literatura. Que resta, pois, aos pobres velhos como assunto de palestra? Nada – a não ser Deus.” (pág.285)


HUXLEY, Aldous. Contraponto. Ed. Globo S.A., 1975.


Um comentário:

TM disse...

Já te ocorreu que para convencer, as vezes, não é necessário argumentar?

O convencimento pode ser gerado pelo exemplo originário de alguém que admiramos. Sendo vc mesma, praticando tudo aquilo que vc acredita, certamente despertará a admiração de outros, e, com isso, pode ser que seus atos sirvam de inspiração, cativem e convençam esses outros a seguirem o seu exemplo.
TM.