terça-feira, 24 de abril de 2012

Capítulo 30


(...) – Eu me sinto de tal maneira feliz, desde que estou aqui com a senhora! – anunciou ela, apenas oito dias depois de sua chegada.
É porque porque tu não te esforças por ser feliz, e porque não perguntas a ti mesma porque te tornastes infeliz, porque cessaste de pensar nas coisas sob o ponto de vista da felicidade e da infelicidade. É a tolice enormíssima dos jovens desta geração – continuou Mrs. Quarles –; eles não pensam nunca na vida senão relacionando tuco com a felicidade... 'Que farei para me divertir?' Eis a pergunta que eles se fazem a si mesmos, ou então se queixam: 'Por que minha vida não é divertida?' Mas nós estamos num mundo em que 'os bons momentos', na acepção vulgar desta palavra, ou talvez em todas as suas acepções, não podem durar continuamente nem pertencer a toda gente. E, mesmo que a mocidade tivesse esses 'bons momentos', ela havia de ficar inevitavelmente decepcionada porque a sua imaginação é sempre mais bela do que a realidade. E, depois que gozamos um pouco esses momentos, eles se tornam aborrecidos. Cada um se esforça para obter a felicidade e o resultado é que ninguém é feliz. É porque eles estão no caminho errado. A pergunta que deviam fazer a si mesmos não é: 'Por que não somos felizes?', ou 'Como nos iremos divertir?' Mas sim: 'Como podemos agradar a Deus?' e 'Por que não somos melhores?' Se as pessoas fizessem interiomente estas perguntas e respondessem a elas, na prática, da melhor maneira que pudessem, haveriam de atingir a felicidade sem nunca pensarem nela. Porque não é procurando a felicidade que a encontramos; é procurando a salvação. E quando as criaturas forem sábias, em vez de serem inteligentes, hão de pensar na vida relacionando-a com a salvação e a perdição – não com os 'bons' ou 'maus momentos'. Se tu te sentes feliz agora, Marjorie, é porque cessaste de pensar em ser feliz, e porque estás tentando ser melhor.” (pág. 402)

HUXLEY, Aldous. Contraponto. Ed. Globo S.A., 1975.

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