sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sexta-feira 13

O gato preto passeava pelos becos daquela rua, becos secos, na noite quente que trazia chuva. Aquele vento abafado, becos sujos, cheios de sonhos apodrecidos. Cheirava aqui e ali, parava, lambia qualquer coisa em seu caminho e continuava sua busca por comida, por segurança e água fresca. Coitado do gato, nem havia chances de encontrar o que procurava. A rua escura o fazia brilhar, seus olhos de fenda eram como pedras que flutuavam e se moviam entre as lembranças esquecidas. Miou e esperou. Miou novamente e esperou. Ali jazia o silêncio, junto de outros corpos que um dia tiveram vida. Bebeu um pouco de água empoçada, uma água preta como a sua cor. Agora sentado, o gato lambia sua pata e esfregava seu olho direito, lambia sua pata demoradamente, entrava, assim, num transe, perdia-se, fechava os seus olhos de fenda e escolhia outra área para limpar vagarosamente. Até que ele sentiu um movimento, atrás de si. Seus bigodes pressentiam que o jantar estava próximo. Com o corpo todo abaixado, rastejava lentamente, em direção ao barulho, ao cheiro, ao objeto de desejo. Respirava o mínimo possível, espreitava o invisível. Chegando mais perto do fundo do beco, sua ânsia por dar o bote crescia dentro de si, seus pelos eriçados, sua respiração pesada, o prazer de caçar era quase tão grande quanto o prêmio em si, comer. A briga não foi longa, grunhidos e ginchos embalaram a breve perseguição. Saciado, deitou e dormiu, sem segurança ou água fresca.