domingo, 4 de março de 2012

Casa da Ciência – Entre os Muros da Escola (2008)

Eba! O cineclube mensal voltou!

Gostei bastante do filme assistido; tema difícil, muitas informações para digerir, discussão presente e angustiante para qualquer um que se interesse pelo tema da educação. Percebi que existiam muitos prefessores presentes, e pude sentir nas perguntas feitas, como o professor é encurralado por todos os lados pela ansiedade.


O Walter Kohan escolheu se ater à parte final do filme, quando o professor pergunta aos seus alunos o que eles tinham aprendido durante o ano. O Walter queria que pensássemos sobre o que é aprender e o que é ensinar. No filme, o professor diferencia entre gostar e aprender: “eu não perguntei o que você gostou e, sim, o que você aprendeu”.


O filme nos apresenta inúmeros problemas e limites por conta das concepções que temos sobre o ensino. Uma menina no filme diz não ter aprendido nada, e o professor desmerece a resposta, é claro que se aprendeu alguma coisa, mas a menina ensiste. Essa afirmação pode ter algumas interpretações: um posicionamento de resistência, uma negação do sistema em que se está inserido poderia ser uma delas. Outra possibilidade seria um posicionamento de não querer ter nenhuma ligação com, algo menos radical, mas que representa o não-lugar.


O professor Walter ainda nos trouxe algumas informações preciosas sobre fisosofia, com os discursos de Sócrates e seu julgamento. O filósofo estaria sendo acusado de corromper os jovens, ou melhor, incitar contra a concepção dominante. Para se defender, Sócrates usou três argumentos: 1) Não cobro por ensinar; 2) Não transmito conhecimento; 3) Falo sempre a mesma coisa para todos. Sócrates ensinava a pensar e não era como o professor típico da época, ele não tinha o que ensinar porque reconhecia que nada sabia. E sua fala era genérica, sobre fatos e situações do cotidiano e não qualquer infomação prática, operacional.


O professor Kohan trouxe, então, alguns conceitos do que seria aprender, como, incorporar conhecimento; lembrar (Platão acreditava que precisávamos de ajuda para relembrar a virtude, aprendida antes de nascer e que teria sido esquecida...o que vai bem na linha do espiritismo); decifrar signos; transformar a vida.


Ele ainda falou que nenhuma palavra é neutra, ela é sempre carregada de sentido e que para aprender precisamos primeiro aceitar o mundo. Ele terminou a sua fala, colocando que sem paixão não se aprende, e as perguntas do auditória levataram ainda tantas outras questões a se pensar.


Eu cheguei a escrever algumas linhas sobre o meu entendimento. A partir do momento que reconhecemos que cada indivíduo é único, com suas facilidades e deficiências, cada um tem uma forma individual de aprender. Deveríamos valorizar e estimular que se ensinasse a cada um descobrir em si a melhor forma de aprender.


O Walter chegou a falar que ele acreditava que a saída era mudar a nossa relação com a escola, e que mesmo que pudéssemos começar uma escola do zero (a escola ideal), o problema do ensinar não seria resolvido, porque cada situação demanda uma solução específica. Ele ainda falou sobre os muros do título do filme, muros esses que existem por toda parte, em nome da segurança. E que cada professor deve inventar um tempo e espaço dentro do seu labor. E que a atitude adotada deveria ser mais para se ter consciência do sistema e, ao invés de ir contra ele, ter um discurso afirmativo apesar de, um discurso que ultrapasse as dificuldades.


Algo que me incomodou um pouco no filme, foi a moral do professor, que apesar ser colocado em uma posição autoritária, ele erra tanto quanto os alunos, afinal, ele é um ser humano. Algumas atitudes dele poderiam ser condenáveis, mas, na verdade, ninguém sabe bem o que irá afetar às pessoas de forma positiva. Talvez se ele pudesse ser ajudado a relembrar as virtudes esquecidas, ele poderia ter uma relação mais agradável com os seus alunos.

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Palestrante Walter Kohan, Doutor em Filosofia pela Univ. Iberoamericana, México, professor da Faculdade de Educação da UERJ. Publicou, dentre outros livros, Filosofia - o paradoxo de aprender e ensinar.

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