segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Olá 2016

Minha vida era pequena e cabia nos dias de um calendário...até que ela passou a ser tão grande que deixou de ser importante anotar o que eu fazia de diferente...todo dia algo novo acontecia – e se perdia no dinamismo do cotidiano. Nunca saí tanto em minha vida, esta que ganhou novo sentido, diferente de apontamentos em um pedaço de papel. Vivo a vida sem contar os dias que passam ou os dias que virão. Vivo o presente. Viva o agora.
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“Para o povo do mar os trabalhos não se levantam do chão, para o povo do mar os trabalhos caem do céu, chamam-se vento e ventania, e é por causa deles que se erguem as ondas e as vagas, se geram as tempestades, se rompe a vela, se quebra o mastro, se afunda o frágil lenho, e estes homens da pesca e da navegação onde morrem, verdadeiramente, é entre o céu e a terra, o céu que as mãos não alcançam, o chão a que os pés não chegam.”(p.277)

(...) “Tudo isso farás, perguntou Jesus a Pastor, Mais ou menos, respondeu ele, limitei-me a tomar para mim aquilo que Deus não quis, a carne, com a sua alegria e a sua tristeza, a juventude e a sua velhice, a frescura e a podridão, mas não é verdade que o medo seja uma arma minha, não me lembro de ter sido eu quem inventou o pecado e o seu castigo, e o medo que neles há sempre, Cala-te, interrompeu Deus, impaciente, o pecado e o Diabo são os dois nomes duma mesma coisa, Que coisa, perguntou Jesus, A ausência de mim, E a ausência de ti, a que se deve, a teres-te retirado tu ou a terem-se retirado de ti, Eu não me retiro nunca, Mas consentes que te deixem, Quem me deixa, procura-me, E se não te encontra, a culpa, já se sabe, é do Diabo, Não, disso não é ele culpado, a culpa tenho-a eu, que não alcanço a chegar onde me buscam, estas palavras proferiu-as Deus com uma pungente  e inesperada tristeza, como se de repente tivesse descoberto limites ao seu poder.”(p. 323)  

SARAMAGO, José. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.