domingo, 13 de janeiro de 2013

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“- Os homens são todos diferentes uns dos outros, Constantino Dmítrievitch. Uns só vivem para as necessidades, como por exemplo, o Kirílov, que só pensa na barriga. O tio Platon é um homem justo. Vive para a sua alma. Não se esquece de Deus.
- O que ele faz para não se esquecer de Deus? Como é que ele vive para a sua alma? - exclamou Liêvin quase num grito.
- É claro, vive como Deus manda, é justo. As pessoas não são todas iguais. Por exemplo, o patrão não é capaz de fazer mal a ninguém...
(…) Ao ouvir dizer que Platon vivia para a sua alma, segundo a verdade, como Deus manda, pensamentos vagos, mas significativos, acudiram-lhe à mente, em tropel, como se proviessem de algum ponto onde estivessem estado encerrados, e, tendendo todos para um mesmo fim, deram-lhe volta à cabeça, cegaram-no com a sua luz”(pág.327)

“'Que teria sido de mim, que teria sido de minha vida, se não fossem essas crenças, se não soubesse que é preciso viver para Deus e não para as minhas necessidades? Teria roubado, teria matado, teria mentido. Nenhuma das principais alegrias da minha vida teria podido existir para mim.' E por mais esforços mentais que fizesse, não conseguia ver-se a si próprio o ser bestial que teria sido, caso não soubesse para que vivia.

'Buscava resposta à minha pergunta. Mas o pensamento não me podia responder, pois o pensamento não pode medir-se com a pergunta. A própria vida se encarregou de me responder graças ao conhecimento do bem e do mal. E esse conenhcimento não o adquiri através de coisa alguma, foi-me outorgado, como a todos os demais, visto que o não pude encontrar em parte nenhuma.

'De onde o soube? Porventura foi através do raciocínio que eu cheguei à conclusão de que é preciso amar o próximo e não lhe fazer mal? Disseram-mo na infância e acreditei-o com alegria, pois trazia-o na alma. E que o o descobriu? A razão, não. A razão descobriu a luta pela existência e a lei, que exige que se eliminem todos quantos nos impedem de satisfazer os nossos desejos. Esta a dedução do raciocínio, que não pode descobrir que se deve amar o próximo, por amar o próximo não é razoável'” (pág.330)

TOLSTOÍ, Leon. Ana Karênina Vol.2. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

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