Algo me
impede. Algo me paralisa. O desconhecido me oprime. Sinto e dói.
Sinto e preciso falar, mas nada acontece. Tudo está sereno na
superfície do lago cinzento; o ar, gelado. Vontades tímidas
borbulham e cozinham, produzindo um vapor quente, aconchegante e
impotente. Sinto pelos olhos dos outros. Como pela boca dos outros.
Ouço e vejo migalhas que não têm força para explodir. Palavras e
imagens excitam por míseros segundos, não sustentam o fogo ardendo.
Não há tempo de acender a fogueira no meio do lago sereno, sua água
gelada revigora, mas paralisa. O desconhecido do fundo, do lago negro,
amedronta, cada movimento lá longe estremece-me. Não temo pela
minha vida, temo por outras vidas. Temo pelo vazio de uma vida. Temo
pelo que já invade a cena. Temo pelo silêncio eterno.
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