Você
disse o que os outros disseram, as mesmas palavras. E eu queria algo
mais profundo, apesar de que vindas da sua boca, tiveram um peso
maior. As palavras são as mesmas, o que muda é o sentimento por
detrás delas. Por isso gosto de escavar, buscar novas formas de
dizer a mesma coisa. Sim, devemos amar o que fazemos...mas que amor é
esse que transpiramos quando em atividade? Que força sublime é essa
que transborda do corpo, que chega a ter um efeito físico na ponta
dos dedos, no coração, na mente, no corpo todo. O corpo formiga e
está pleno. Porque o espírito está pleno, está em Deus. Não
amamos a atividade em si (ainda), mas o seu fim; a sensação boa que
se tem depois de um longo dia de trabalho, recebendo em troca a
certeza de que o dever foi cumprido dentro do seu limite, dentro das
suas possibilidades, tendo você dado o seu máximo. E ainda achar
que deveria ter se doado mais. Essa é a roda do amor ao próximo, a
nós mesmos e ao Pai.
.
.
“Decorrido
um instante, tive a magnífica certeza de que não me sentia
aterrorizada. Compreendi, num assombro vigoroso de confiança, que, se
permanecesse um minuto no lugar em que me achava, ele deixaria –
pelo menos durante algum tempo – de infundir-me pavor; e, com
efeito, durante esse minuto, aquilo foi tão humano e odioso como uma
entrevista real: odioso justamente porque era humano, tão humano
como a gente se encontrar a sós, a horas mortas numa casa
adormecida, com um inimigo, um aventureiro ou um criminoso. Era o
silêncio mortal de nosso longo olhar, de tão curta distância, que
dava àquele horror, enorme, a sua única nota sobrenatural. Se eu,
num tal lugar, houvesse deparado com um assassino, teria podido, ao
menos falar-lhe. Na vida, alguma coisa teria ocorrido entre ambos;
se não ocorresse, algum de nós teria feito um movimento, ao menos.
O instante se prolongou a tal ponto que pouco faltou para que eu
começasse a duvidar se estava viva ou não” (p.196)
JAMES,
Henry. A outra volta do parafuso. São
Paulo: Abril Cultural, 1980.
Nenhum comentário:
Postar um comentário