(…)
“Com os lábios entreabertos, secos pelo vento que soprava sem
cessar, continuou sua dura e humilde glória com pés mais leves,
corpo aguçado em movimentos. Imaginou, sorrindo que atrás de si,
enquanto subia e jamais alcançava, olhos estarrecidos de muitos
homens seguiam-na como uma visão escapada...sim,sim, assim
tornava-se cada vez mais fácil avançar o grande corpo
branco...sorriu sonsa para trás e então, como se tivesse realmente
acreditado no que imaginara, viu que estava sozinha. Mas um homem, um
homem, implorou espantada...que a compreendesse naquele instante no
prado, que a surpreendesse quase com dor. Mas ninguém a via e o
vento soprava quase frio.” (p.223)
(…)
“Mas com obstinação de um mundo que avisa com os olhos impotentes
sobre o perigo, ela sentia sem mesmo compreender que o lugar onde se
foi feliz não é o lugar onde se pode viver.” (p.229)
LISPECTOR, Clarice. O lustre. Ed. Nova Fronteira, 1982.
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