Demorei
a pegar o ritmo do “As cidades invisíveis”, mas depois de entrar na sua
sintonia, que grandeza! Confesso que, em dados textos, eu sabia ter um tesouro
escondido, mas não conseguia encontrar...é preciso viver mais!
“–
O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui,
o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem
duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas:
aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo.
A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber
reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e
abrir espaço.” (p. 150)
CALVINO,
Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990
.
.
Éramos
três: a fada, o ogro e a sereia; e por alguns minutos, habitávamos a mesma clareira.
O ogro encostado a uma árvore, a fada pousada em uma folha e a sereia com seu
torso exposto e sua cauda imersa no rio que passava. O clima era tenso. Um
silêncio pesado. Tanto o ogro quanto a sereia se desconheciam e não aparentavam
boa vontade para iniciar uma amizade. A pequena fada, travessa, segurava o riso:
o ogro fazia caretas inconscientemente. Por que era tão difícil as espécies
conviverem harmoniosamente?
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