Gostei do filme, ao mesmo tempo que senti uma certa nostalgia de
quando ouvia sobre os índios na escola, senti-me, também, mais
próxima daqueles seres humanos que vivem de forma tão diferente; a
sensação de perto e distante ficou bem aflorada em mim. Além do
filme ser divertido e curioso! A palestra: “A Potência de um Filme
Comum”. O palestrante: Cezar Migliorin. Ele desenvolveu sua fala
sobre o filme dentro de duas linhas: uma histórica e outra dentro do
cinema contemporâneo brasileiro.
Começando por situá-lo dentro do cinema brasileiro, o filme retoma
a questão indígena com uma narrativa e força performáticas.
Percebemos a encenação, a relação intensa, a colaboração entre
os índios e os realizadores do filme. Os índios são agentes e
participantes e não só objeto a ser filmado.
Dentro da linha histórica, o Cezar, relacionou “As hiper mulheres”
com o cinema depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente com a
estética de Jean Rouch. O cinema se escondia para não interferir na
integralidade do objeto antropológico em estudo. No filme presente,
há personagens não humanos que também constroem a imagem, como o
gravador, por exemplo.
O filme em questão, pode, então ser dividido em dois momentos;
primeiro uma pequena presença do cantar e dançar e, segundo, seis
meses depois, com a intensificação do canto e da dança. No início,
somos colocados no lugar do teleespectador pelas regras clássicas do
cinema e, posteriormente, essas regras são deixadas de lado. Temos o
narrador dentro da cena.
O Cezar falou também de um termo usado no cinema – “pulo do
eixo” – erro ao se gravar a cena, e que causa um estranhamento,
quando num plano um olha para direita e no plano seguinte, na
sequência, um deve olhar para esquerda, fazendo essa ligação entre
as cenas.
A ficção atravessada pela intimidade entre filmados e filmantes
torna o filme diferente, este se faz desorganizando o cinema
clássico. E em dado momento, temos o “pacto do documentário”
quando uma das índias se encontra doente.
Temos a rememoração quando o homem e a máquina se unem. No segundo
momento do filme, percebemos a câmera fluindo com liberdade.
Para finalizar a parte histórica, o Cezar falou de cinco pontos,
resumindo suas percepções: 1) o fazer o filme sem limites entre os
personagens e quem faz o filme;2) a imagem como ativadora do
processo; 3) o cinema e a tecnologia como dispositivos da invenção
da tradição; 4) a ficção como funcdamental para criar a realidade
e 5) interpretar a própria vida para reconfigurar a cena. E em suas
palavras, concluiu, “ao refazer-se a cena, cria-se a comunidade”.
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Palestrante
Cezar Migliorin – Doutor em Comunicação e Cultura
pela ECO-UFRJ/Sorbonne-Nouvelle, Paris, ensaísta e professor do
Departamento de Cinema e Vídeo da UFF. Organizador do livro Ensaios
no Real: o documentário brasileiro hoje.
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