“(...)
– Eu me sinto de tal maneira
feliz, desde que estou aqui com a senhora! – anunciou ela, apenas
oito dias depois de sua chegada.
– É
porque porque tu não te esforças por ser feliz, e porque não
perguntas a ti mesma porque te tornastes infeliz, porque cessaste de
pensar nas coisas sob o ponto de vista da felicidade e da
infelicidade. É a tolice enormíssima dos jovens desta geração –
continuou Mrs. Quarles –; eles não pensam nunca na vida senão
relacionando tuco com a felicidade... 'Que farei para me divertir?'
Eis a pergunta que eles se fazem a si mesmos, ou então se queixam:
'Por que minha vida não é divertida?' Mas nós estamos num mundo em
que 'os bons momentos', na acepção vulgar desta palavra, ou talvez
em todas as suas acepções, não podem durar continuamente nem
pertencer a toda gente. E, mesmo que a mocidade tivesse esses 'bons
momentos', ela havia de ficar inevitavelmente decepcionada porque a
sua imaginação é sempre mais bela do que a realidade. E, depois
que gozamos um pouco esses momentos, eles se tornam aborrecidos. Cada
um se esforça para obter a felicidade e o resultado é que ninguém
é feliz. É porque eles estão no caminho errado. A pergunta que
deviam fazer a si mesmos não é: 'Por que não somos felizes?', ou
'Como nos iremos divertir?' Mas sim: 'Como podemos agradar a Deus?' e
'Por que não somos melhores?' Se as pessoas fizessem interiomente
estas perguntas e respondessem a elas, na prática, da melhor maneira
que pudessem, haveriam de atingir a felicidade sem nunca pensarem
nela. Porque não é procurando a felicidade que a encontramos; é
procurando a salvação. E quando as criaturas forem sábias, em vez
de serem inteligentes, hão de pensar na vida relacionando-a com a
salvação e a perdição – não com os 'bons' ou 'maus momentos'.
Se tu te sentes feliz agora, Marjorie, é porque cessaste de pensar
em ser feliz, e porque estás tentando ser melhor.” (pág. 402)
HUXLEY,
Aldous. Contraponto. Ed. Globo S.A., 1975.
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