“Se a porta não tivesse serventia seria uma obra de arte. Portas que nos levam a lugar algum. Portas que guardam segredos. Portas que apenas existem para nos fazer sentir seguros, que esperam ser abertas, quando nunca serão. Portas que abrimos com freqüência, e até esquecemos que são portas. Portas que guardam nossos medos, e que talvez, dali a algum tempo, poderemos olhar pela fresta e tomar coragem de enfrentar algum. Portas que encerram nossos sonhos mais esquecidos. Portas que comprimem nossas vontades que afloraram e depois murcharam, mas continuam lá, secas. Portas destrancadas que podemos abrir quando queremos apenas revisitar. Portas trancadas com um cadeado, outra com dois, e outras tantas com tábuas e correntes. Portas de aço, que podemos apenas passar por elas e sonhar com o que possa estar ali. Portas arrombadas, que não mais fecham, estão sempre entreabertas e não há meio de fechá-las novamente, não há como consertá-las. Portas que você sabe que não pode abrir, dessas feitas de material vagabundo, que qualquer empurrão abre, ficando elas escancaradas, tão abertas e tão escuras, que exigiriam para sempre uma vigilância extrema. Portas que se desconhece o conteúdo, algumas você arrisca, dá uma olhada, outras você passa direto. Portas e mais portas que se transformadas em arte não serviriam para nada, mas talvez tornassem o passeio mais agradável e menos doloroso”.
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