domingo, 30 de março de 2014

Não exijas, ame

“Quem sabe pode muito, quem ama pode mais” - Chico Xavier
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A casa se encontra mais calma, há um quê de harmonia no ar, quase se pode sentir o cheiro de flores. Isso é muito bom. Respira-se mais levemente, já que tudo deu certo.
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Em contrapartida, brigo incessantemente com o corpo, o espírito grita uma posição e o corpo grita outra. Não poderia estar mais confusa, apesar de que a situação que se repete deixa uma certa sensação familiar. Situação que se repete a vida inteira e, claramente, tem algo a mostrar – mas o quê? A alma pede novos projetos, novos caminhos, novos trabalhos – mas o quê? Não há como saber se a calmaria é prêmio ou momento de arrumar a bagunça.

sexta-feira, 21 de março de 2014

De repente: chuva

21/03/14

Já reparou,
tem gente que só é
quando sofre.
Se tudo vai bem,
tudo pode esperar;
Nada é urgente.

Quando fomos feitos
para ser, para agir.
Adia-se o inevitável,
quando correr a favor da mudança,
É encontrar-se. É felicidade.
É chuva, assim, de repente.

sexta-feira, 14 de março de 2014

A mosca


- Cuidado para a mosca não cair no seu prato.
- Não tem problema, eu mentalizo para ela ir embora.
- Eu tenho um método melhor – e fez movimentos repetitivos de assassino.
- Entendo, o seu método é físico.

E demo-nos conta: a mosca tinha ido embora.

- É, o seu método é melhor, reconheceu o outro.
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“Coincidência”: Mattia Pascal x House. Tendo terminado de ler a história sobre um homem que é tido como morto e passa a viver nova vida; no dia seguinte, assisto o último episódio de House, em que o próprio usa o infortúnio do Mattia para enganar a todos.

Bravo!

quinta-feira, 13 de março de 2014

Ah,...que delicioso!

Queria eu escrever um poema...dizer com palavras bonitas qualquer coisa de ordinário, mas com uma visão toda poética. E teria um título assim: Lodola, lodoletta.
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(…) “O Emaranhamento, se existe, é portanto, deliberado; o mecanismo, se existe, é, portanto, deliberado; mas não por mim e, sim, pela própria fabulação, pelas próprias personagens. E, com efeito, revela-se imediatamente: a miúdo, é arranjado e posto à vista no próprio ato de arranjá-lo e armá-lo. É a máscara para uma representação, o desempenho do papel que cabe a cada qual, aquilo que desejaríamos ou deveríamos ser e aquilo que, aos outros, parece que somos, ao passo que, o que somos, nem nós mesmos, até certo ponto, o saberemos; é metáfora bisonha e incerta de nós mesmos; a construção, frequentemente cerebrina e capciosa, que fazemos de nós ou que de nós fazem os outros: logo, realmente, um mecanismo, sim, em que cada qual, deliberadamente, repito, é o títere de si mesmo. Depois, no fim, vem o pontapé, que manda pelos ares a geringonça toda.” (p.319)

PIRANDELLO, Luigi. Advertência sobre os escrúpulos da fantasia. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
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Gentil cotovia, o que você traz de notícia? Boa, espero. O que você anda espiando do alto das árvores? Diga se vê algo que mereça atenção. Diga se vê uma janela ao lado de uma amendoeira, janela que serve de contato entre o eu e a natureza. Você se vê no reflexo? Pensa que é você mesma ou outra lodoletta? Canta pra mim, cotovia, canta alto para eu ouvir do lado de cá da janela.

sábado, 1 de março de 2014

Amore

In cuor di donna quanto dura amore?
- (Ore)

Ed ella non mi amò quant'io l'amai?
- (Mai)

Or chi tu che sì ti lagni meco?
- (Eco)
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Em coração de mulher, quanto dura o amor?
- (Horas)

E ela não me amou como eu a amei?
- (Nunca)

Mas que és tu, que assim te queixas comigo?
- (Eco)

PIRANDELLO, Luigi. O falecido Mattia Pascal. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Secção

E do fim, chegamos ao início. Tudo novo, tudo excitante. Como nunca foi. A inspiração que borbulha e explode em fragmentos. Ela que é pura alegria, cheia de vida! Que faz rir, que faz formigar lá no fundo do mistério. O que é proibido tem sabor de morango com chocolate.
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Escrevo para não dizer. Digo para não sentir. Palavra que mata o tanto que me faz sorrir.
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Intenso e desnorteante, descontrole enervante. Precisando desapegar do desejo.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Pretexto

Sua pele alva apresentava uma marca longa, recente, um arranhão no interior de sua coxa direita. De onde teria vindo? Suas unhas eram mantidas curtas, a única explicação gritante. Outro motivo teria que ser levemente mais imaginativo, como num sonho, quando tudo e qualquer coisa pode acontecer. Quando tudo e qualquer coisa têm motivos incoerentes à princípio. Nunca se pode ter certeza do que motiva um sonho, ou um arranhão no interior da coxa; tudo não passa de mera especulação. Na verdade, o motivo em si era fácil de desvendar: coceira. O difícil era descobrir o como. A única verdade parecia ser o poder da mente, verdade essa esotérica. A verdade racional poderia ser o sonambulismo. Eram duas vidas, uma real e outra em sonho. Mas qual seria a mais verdadeira, o arranhão feito durante o sono ou a realidade que não apresenta solução? Talvez a resposta estivesse na mistura dos dois mundos, um influenciando o outro. Era apenas questão de aceitar a possibilidade – problema resolvido.