Ninguém
nasce destinado ao mal, porque semelhante disposição derrogaria os
fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se levanta a Obra de Deus.
O
espírito renascente no berço terrestre traz consigo a provação
expiatória a que deve ser conduzido ou a tarefa redentora que ele
próprio escolheu, de conformidade com os débitos contraídos.
Prevalesce
aí o mesmo princípio que vige para as sociedades terrestres, pelo
qual, se o homem é malfeitor confesso, deve ser segregado em
estabelecimento correcional adequado para a reeducação precisa, e,
se é apenas aprendiz no campo da experiência, com dívidas e
créditos, sem falta grave a resgatar, é justo possa pedir às
autoridades superiores, que lhe presidem os movimentos, o gênero de
trabalho ou de luta em que se sinta mais apto ao serviço de
auto-aperfeiçoamento. Entendamos, porém, que, se perpetrou delito
passível de dolorosa punição, não é ele internado na
penitenciária ou no trabalho reparador para que se desmande,
deliberadamente, em delitos maiores, o que apenas lhe agravaria as
culpas já formadas perante a Lei.
É
natural que o devedor, nessa ou naquela forma de resgate, venha a
sofrer fortes impulsos a recidivas no erro em que faliu, tanto
maiores quão mais extenso lhe tenha sido o transviamento moral;
entretanto, a provação deve ser assimilada como recurso de emenda,
nunca por vávula de expansão das dívidas assumidas.
Desse
modo, ninguém recebe do Plano Superior a determinação de ser
relapso ou vicioso, madraço ou delinquente, com passagem justificada
no latrocínio ou na dipsomania, no meretrício ou na ociosidade, no
homicídio ou no suicídio. Padecemos sim, nesse ou naquele setor da
vida, durante a recapitulação de nossas próprias experiências, o
impulso de enveredar por esse ou aquele caminho menos digno, mas isso
constitui a influência de nosso passado em nós, instilando-nos a
tentação, originariamente toda nossa, de tornar a ser o que já
fomos, em contraposição ao que devemos ser.” (pág.210)
VIEIRA,
Waldo e XAVIER, Francisco Cândido. “Evolução e destino” In:
Evolução em dois mundos. FEB, 1959.
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