domingo, 7 de novembro de 2010

Conto

Na mesma época que mandei um conto para O Globo, participei de dois concursos do Paraná, um de poesia e outro de contos; o resultado saiu, não fui selecionada em nenhum...agora eu posso postar eles.

Dois em um

C. saiu de casa em direção à sua árvore favorita, arrastava um carrinho com alguns de seus tesouros: uma boneca, revistas, um livro de histórias de crianças. Este último, ela tinha ganhado na escola, de uma professora. O sol já estava alto, e a sombra da mangueira proporcionava um frescor único.

Sentada na grama rala, começou a tirar do carrinho os seus bens, tratando-os com o carinho que mereciam, um a um era tocado, sentido e apreciado. Dali a alguns minutos, já estava absorta em alguma brincadeira que era 99% imaginação, nem ouviu chegar o pequeno vizinho.

G. caminhava pelo muro e tinha uma vareta na mão, e devia estar brincando de qualquer brincadeira de menino. Ele acabou reparando em C., que estava embaixo da árvore mais próxima do muro, e parou, cruzou os braços, encheu o peito e ficou olhando um tempo para a menina, com ar de guarda. Quando ela percebeu a sua presença, as palavras saíram como se um instrumento fosse:

- O seu orgulho me fere.

E ele retrucou no mesmo tom, como se sua boca tivesse vida própria:

- A sua bondade me fere.

Como se repelidos, cada um continuou o que estava fazendo, antes daquela manifestação impensada. Com a vareta, G. começou a bater no muro, distraído, como se estivesse martelando, mas sem pregos. C. que já não mais estava só e percebia a presença do menino, foi-se irritando com aquilo e não se aguentou:

- Por que você me irrita? – ela perguntou em voz alta, mais para si do que para o menino.

- Você estava melhor sozinha? Você acha que eu destruo sua tranquilidade? A vida é assim.

- De onde será que vem essa repugnância, G.?

E ele deu de ombros, pois não sabia a resposta.

2 comentários:

MagicJetPack disse...

Conhece Plumtree?

Anônimo disse...

R: É o amor.