domingo, 31 de janeiro de 2010

Desintoxicação

Foi doloroso e degradante. Brigou com o bicho o tempo todo no caminho de volta para casa. E pra que voltar? Como entrar em casa após um fracasso? Não queria exatamente fugir, queria ficar só, deixar a energia transbordar e fluir, deixar o peso ir embora; e não conseguia pensar em um lugar que pudesse fazer isso, havia pessoas por todos os lados.

Nas trevas, sem poder ver o seu rosto, pode finalmente parar de brigar se libertar. A água saia de todos os seus poros, expelia aquilo que vinha guardando na expectativa do sucesso, uma explosão nunca sentida antes. O corpo tenso, expressando uma tendência natural de encolher-se e ficar ali para sempre parado. Só no breu. Causando o seu próprio sofrimento, pensava na sua força destrutiva, uma vontade de se punir pela incompetência.

Agora já estava à luz do dia, junto dos seus, mostrando sua fraqueza diante do desafio. Chorava copiosamente, sem controle sobre o seu corpo, esperando que a dor passasse algum dia. Seguiu-se o desgosto pela vida, pra que continuar, criando assim a sua própria dor? Já na cama, sentia respostas alternadas do seu corpo: tremia involuntariamente, espasmos, parava de respirar, olhava para o nada com a cabeça pendendo para o lado em posição desconfortável, e as lágrimas continuavam, mais tímidas agora à luz do dia, com o seu rosto à mostra.

E assim, após algumas horas de desintoxicação, já tinha incorporado o seu fracasso, já tinha aceitado o insucesso e pensava na próxima meta.

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