A música era clássica, as quatro estações
de Vivaldi. Ela tinha uma história, um significado. E mesmo ouvindo-a em pé, em
um ônibus lotado com o mundo desabando do lado de fora e cheiros estranhos ao
seu redor, sem poder se mexer; apenas a música ele ouvia. Olhava o nada,
hipnotizado, e suspirava no ritmo dos allegros e arperjos. Ele sonhava
acordado, se via chegando em casa, finalmente em casa. Começava a busca por
ela, um, dois cômodos, até encontrá-la. Vivaldi era a trilha sonora do
encontro, cada abraço e cada beijo eram dados com um calor que crescia
voluptuosamente - em câmera lenta - e, ainda assim, um momento puro. Embalado
pelo Verão de Vivaldi, pela chuva lá fora e pelos deuses.
Sugestão: ouvir a música enquanto lê e relê, buscando encontrar o melhor momento, o que combina com o texto.
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