(...)
“ – Não posso precisar; mas, a mim, em tudo isso há outra circunstância que me interessa
e que é já, por assim dizer, um problema. Já não quero falar de que a
delinquência, entre as classes baixas, nos últimos cinco anos sofreu um grande incremente;
também não falo dos contínuos roubos e incêndios; o mais estranho de tudo, para
mim, é que também nas classes elevadas da sociedade aumentou igualmente a criminalidade
e, por assim dizer, paralelamente. Aqui é um antigo estudante que assalta uma
carruagem de correio em plena estrada; ali, indivíduos de ideias avançadas e
que ocupam uma boa posição social...põem-se a fabricar moeda falsa; além, em
Moscou, prendem um bando inteiro de falsários que operavam na loteria do último
sorteio...e vê-se que um dos principais comprometidos é um catedrático de
história universal; noutro lado assassinam um dos nossos secretários no
estrangeiro para o roubarem e também por alguma outra obscura razão...E se agora
se chega à conclusão de que essa velha prestamista foi assassinada por algum
indivíduos das classes elevadas, uma vez que os camponeses não têm objetos de
ouro para empenhar, como explicar este desenfreamento duma boa parte da nossa
sociedade civilizada?
(...)
–
Sabe o que respondeu em Moscou esse catedrático, a que se referiu, à pergunta
sobre o motivo por que falsificara notas? ‘Toda a gente enriquece de várias
maneiras, e, por isso, eu também quis enriquecer’. Não me recordo das palavras
exatas, mas a ideia era essa: enriquecer fácil e rapidamente, e com pouco
custo! Estão acostumados a viver com toda a moderação, apelam para os auxílios
alheios, comem coisas já mastigadas. Bem, depois, quando lhes chega a hora,
cada qual mostra aquilo que é...” (p.176)
DOSTOIÉVSKI,
Fiódor Mikháilovitch. Crime e castigo. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
.
.
Toda
coincidência é mágica, viu? [coração]
Nenhum comentário:
Postar um comentário