Queria eu escrever um poema...dizer com palavras bonitas qualquer
coisa de ordinário, mas com uma visão toda poética. E teria um
título assim: Lodola, lodoletta.
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(…) “O Emaranhamento, se existe, é portanto, deliberado; o
mecanismo, se existe, é, portanto, deliberado; mas não por mim e,
sim, pela própria fabulação, pelas próprias personagens. E, com
efeito, revela-se imediatamente: a miúdo, é arranjado e posto à
vista no próprio ato de arranjá-lo e armá-lo. É a máscara para
uma representação, o desempenho do papel que cabe a cada qual,
aquilo que desejaríamos ou deveríamos ser e aquilo que, aos
outros, parece que somos, ao passo que, o que somos, nem nós mesmos,
até certo ponto, o saberemos; é metáfora bisonha e incerta de nós
mesmos; a construção, frequentemente cerebrina e capciosa, que
fazemos de nós ou que de nós fazem os outros: logo, realmente, um
mecanismo, sim, em que cada qual, deliberadamente, repito, é o
títere de si mesmo. Depois, no fim, vem o pontapé, que manda pelos
ares a geringonça toda.” (p.319)
PIRANDELLO, Luigi. Advertência sobre os escrúpulos da fantasia. São
Paulo: Abril Cultural, 1978.
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Gentil cotovia, o que você traz de notícia? Boa, espero. O que você
anda espiando do alto das árvores? Diga se vê algo que mereça
atenção. Diga se vê uma janela ao lado de uma amendoeira, janela
que serve de contato entre o eu e a natureza. Você se vê no
reflexo? Pensa que é você mesma ou outra lodoletta? Canta pra mim,
cotovia, canta alto para eu ouvir do lado de cá da janela.