domingo, 6 de dezembro de 2009

Casa da Ciência – A Síndrome da China (1979)

Eu tinha visto o trailer na internet e não dava nada pelo filme, que me surpreendeu! Dirigido por James Bridges, o filme tem aquela aura dos anos 80 e que sempre desperta uma sensação boa de nostalgia. Eu gostei bastante das atuações e me vi super curiosa sobre o fim daquela história, sofri junto com a Kimberly Wells (Jane Fonda), o Jack Godell (Jack Lemmon) e o Richard Adams (Michael Douglas).

A expressão “síndrome da China” faz referência a um acidente nuclear, com o derretimento incontrolado de um reator atômico. A quantidade de calor seria tão grande que causaria o derretimento do solo desde os Estados Unidos até a China. O que o palestrante Hernani Heffner, conservador-chefe da Cinemateca do MAM e professor de História do Cinema Brasileiro e Mundial na PUC-Rio, assegurou ser uma lenda.

Com a palestra O paradigma nuclear acabou?, Hernani começou nos dizendo que o filme foi percebido, anos mais tarde, como um retrato de algumas mudanças da relação da mídia como a sociedade e da questão nuclear. Diferentemente do medo da destruição iminente do planeta pela guerra nuclear da Guerra Fria, a questão abordada no filme explora algo menos político, e mais a discussão sobre o perigo cotidiano da energia nuclear.

O Japão tendo sido vítima das bombas atômicas, nunca teria explorado o assunto diretamente, pois seria demasiado penoso. Um acidente com uma bomba de hidrogênio, teste dos norte-americanos, teria atingido um barco japonês, inspirando-os a inventar o Godzilla, aquele monstro fruto da radioatividade e que destrói o Japão, medo constante deles: será que sofreremos outro ataque nuclear?

A natureza estética do filme seria o escândalo de Watergate, sendo um dos últimos exemplares da teoria da conspiração, preocupados com a busca da verdade para se poder posicionar – lugar esse assumido pela mídia.

O filme se apropria do assassinato de Karen Silkwood, na década de 70, funcionária de uma usina nuclear e que denunciaria as péssimas condições da empresa em que trabalhava. A cena do carro perseguido e jogado para fora da estrada seria um retrato fiel do ocorrido.

Há também, no filme, um processo de despersonalização, pois que não há vilão expresso, temos pontos de vista, o certo e o errado se confundem. A energia é necessária para se viver e a dependência coloca novas questões para o ser humano. A película tem um caráter documentário, sem música, com o objetivo de ser o menos melodramático possível.

O personagem Jack Godell é aquele típico de ficção científica, que toma consciência do monstro que criou, quando se vê à beira da loucura ao perceber a possibilidade e a magnitude de um acidente nuclear com a usina que era a sua vida. Ele também é uma alegoria da falta de condução de Estado. A repórter Kimberly representa a transição de um processo, que ao mesmo tempo quer manter o seu emprego e precisa falar sobre notícias bobas do cotidiano, também quer fazer reportagens de utilidade pública. A notícia se desvinculando da política e do mundo.

A nova lógica do capitalismo financeiro substituía o capitalismo do lucro, a economia crescia a uma velocidade mais rápida que a segurança das técnicas aplicadas nas usinas nucleares, sendo importante o planejamento para quando o acidente acontecer, porque os acidentes virão (isso não há dúvida) a segurança estará na boa estratégia para minimizar os danos. Ele ainda falou de outros acidentes nucleares, da zona proibida na URSS, de Goiânia.

No final, o Hernani em resposta ao Gabriel, falou um pouco sobre a ciência e a tecnologia, como a primeira decepcionou o homem, não mais assumindo a posição de nos redimir através da transformação da natureza, e sim de nos ajudar a pensar nós mesmos.
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Próxima sessão do cineclube da Casa da Ciência: 06 de FEVEREIRO com o filme JOGO DE CENA (2007) e a palestrante ILANA FELDMAN.

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