sexta-feira, 18 de julho de 2008

População de rua

Tem um trecho do caminho do trabalho que tem sempre uma ou duas famílias de rua com uma penca de filhos, ou seja, mais gente pra fazer aquela cara de coitadinho criando mais chances de nos sensibilizar.

Eu fico irritada, é o tido da coisa que se eu parasse para pensar em toda a população de rua e em tudo que está errado no mundo, eu não conseguiria continuar a minha vida. Aqueles vinte centavos não vão resolver o problema. E você nem sabe pra onde aquele dinheiro vai, pra cachaça, pra drogas...Às vezes eu me sinto mais generosa, quando tenho alguma coisa no bolso, e acabo dando, apesar de tudo o que penso sobre isso, afinal a pessoa pode estar com fome.

Eu não conheço essa realidade, mas eu sinto curiosidade de saber se eles trabalham e procuram ter uma vida de que se orgulhar.

Ontem eu estava indo pra mais um dia de trabalho e uma mãe com um carrinho de bebê passou e pediu vinte centavos. Eu não estava me sentindo generosa. Disse que não tinha e continuei meu caminho. Logo atrás veio mais uma mãe e outra mulher. Pediu. E eu neguei. E a resposta mal-criada foi gritada de longe. “É por isso que a gente rouba”.

Claro que eu não respondi, mas eu fiquei meio angustiada, tentando organizar argumentos de defesa para aquela afirmação. Primeiro, eu estava justamente indo ganhar o meu, o que eu gasto bastante tempo e energia, será que ela se esforça pra ganhar algum? Segundo, meus pais também trabalham muito para termos nossas coisas e ela quer assim, dado? Terceiro, eu não tenho culpa dela ter uma penca de filhos, responsabilidade só dela e do seu parceiro.

A minha fala é burguesa, eu sei, mas eu sofro os meus conflitos internos, do tipo, ela não teve as mesmas oportunidades que eu, não teve a mesma educação e muitos usam esse discurso como algo que a isentaria de culpa.

Porém, muitos da realidade dela, não se encontram nas ruas pedindo, trabalham pra caramba pra conseguir o pouco que tem. Aqueles têm o meu respeito.

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