Talvez
fosse apenas impressão. A cada rajada de vento, fechava as mãos com
força, na tentativa instintiva de segurar o calor, de aguentar o
frio. Melhor seria se o movimento pudesse vir seguido de grito...um
grito alto, seco, talvez chorasse quando o ar acabasse. Não se
assuste ou tema por ela; apesar da dor nas costas, o grito seria
apenas uma forma de expressar qualquer coisa esquecida dentro dela.
Não lembrava exatamente de nada muito terrível que a assombrasse,
pelo menos não conscientemente. Segurava o grito pelos outros que a
cercavam na rua, não queria chamar a atenção ou parecer louca, ou
pior, desesperada.
Depois da
euforia vem o cansaço e um desânimo. O peso da vida real é tão
real. O peso do dia a dia cheio, sem leveza, sem poesia; as mesmas
pessoas, os mesmos problemas, os mesmos desejos frustrados.
Aterrava-a o tanto que tinha que aprender em tão pouco tempo, e sem
descuidar.
Sentia o
seu rosto quente novamente, via pessoas que conhecia, mas que não a
conheciam. Esperava não sabia o quê. Respirava cansada...poderia
dormir sentada, poderia dormir por dias...minto, sua essência não
permitiria.Respirar doía...precisava ver as suas costas...consertar o
que o seu próprio corpo não conseguia curar. Precisava de um
remédio para aquele cansaço.
Uns dias
atrás tinha ouvido dizer que o amor não podia curar os
desequilibrados; será que limites e disciplina curam?, ela se
perguntava. Diziam que ela estava errada; ouvia o discurso,
compreendia, mas não conseguia mudar de opinião. Quem não sabe se
defender também tem culpa? Dias melhores viriam.
Levantou-se.
Estava pronta para ir para casa.