sábado, 28 de junho de 2014

Vetitum

“Dentre os grandes filósofos, quem era casado? Nem Heráclito, nem Platão, nem Descartes, nem Spinoza, nem Leibnitz, nem Kant, nem Shopenhauer; mais ainda nem sequer os poderíamos imaginar casados. Um filósofo casado é motivo de comédia, esta é minha tese; a única exceção é Sócrates, o maldoso Sócrates, e ainda este me parece que se casou por ironia, precisamente para demonstra essa tese.” (p.121)

Nietzsche, F. In: Terceiro Tratado. A Genealogia da Moral. São Paulo: Ed. Escala, 2009.
.
.
Na exposição de Dali, tantos sentimentos! Tia desmaiando na fila (assistência médica pronta a ajudar), alfinetada de cunhado (magoada), fome grande depois da looonga espera e da própria exposição em si e, pra terminar o dia, insônia, depois do sacrifício de tomar o mocaccino que ninguém gostou.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Copa no Brasil

Três cavalheiros me acompanham neste inverno cheio de gritos de torcida e de dor: Nietzsche, Ramatís e Thomas Mann.

“Que vale a taça vazia diante de quem agoniza de sede?” (p.145)
MAES, Hercílio.In: Espiritismo e Umbanda. Missão do Espiritismo. Rio de Janeiro, Freitas Basto, 1974.

“Cabeça e coração estavam embriagados e seus passos seguiam as instruções do demônio, que sente prazer em pisar com seu pé a inteligência e a dignidade humanas.” (p.146)
MANN, Thomas. A Morte em Veneza. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Dona de mim

Ah, o abismo! Queda que parece não ter fim. Obsessão que brota de um vazio perene, que testa a força para aguentar o furacão e chegar ao seu olho, porque o olho é a origem, é o ponto de partida, um pequeno círculo sereno que vai se abrindo em espiral, de baixo para cima, nos convidando a enfrentar outras turbulências para chegar ao centro do equilíbrio – onde não há desejos que escravizam, onde não há violência que desestabiliza, onde não há revolta que impede a elevação do espírito. Elevar para ser uno, para ser instrumento de trabalho, esvaziar-se de si e encher-se de nossa própria energia sublime aprisionada por nossa ignorância quanto a quem somos nós. Rodopio em sintonias terríveis. Peço ajuda, qualquer que seja, me tire daqui, desse furacão sem fim! Lance-me para desacordar, dando uma trégua ao meu espírito que convulsiona na matéria. Porque enfrento os vícios que guardados são, a briga se agiganta e parece a batalha das batalhas. Energias densas e viscosas demandam uma resposta que ainda não existe, porque ainda faltam alicerces, certezas. A força da mente que tenta e falha. Ainda falha. Engatinho em ser dona de mim.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Porque não há outra

Eu disse “sim, vamos”, com a certeza de que o encontro iria celebrar o afastamento, ou melhor, a celebração seria pelo fim do afastamento. No entanto, estava mais só em companhia do que quando realmente só estava. Crescemos tanto para um lado e para o outro assim como a distância entre nós. A vida adulta de um lado, e a adolescente do outro. Um encontro para ouvir as últimas estripolias cômicas, para perceber um lapso no tempo: você vive o que já deveria ser passado. A vida adulta é de responsabilidades, e ouço apenas você se gabar de triunfos sociais. Qual o valor de risadas que abafam a fuga de si mesmo? Minha felicidade aflorou com o baião, e morreu quando ficou clara a distância entre os dois propósitos de vida. A felicidade esvaiu-se, mas não foi assim sem poesia, porque o trágico era estar em companhia mas só, totalmente só. E o trágico é belo, tem um encantamento todo especial, difícil de explicar. O trágico nos faz sentir, nos faz mudar de vida. É um marco, o início de uma nova caminhada, decisão abraçada porque não há outra – e, assim, despertamos. Superamos a ilusão e nos aproximamos um pouco mais de nós mesmos, da nossa essência, que é a felicidade.