sábado, 20 de abril de 2013

Noite estranha

Vou tendo assim uma noção de totalidade, eu e o outro somos um, somos um com as árvores, com o ar, com os animais. Sintonizo uma energia de paz e certeza do que sou – parte de um todo. Estou densa, sinto a densidade do espaço a minha volta, solto o ar dos meus pulmões e assim que este deixa a minha boca, tudo pesa, e a gravidade parece atuar mais do que o normal: estou densa. Fecho os olhos para enxergar melhor. O corpo pesa. Parece que a noite será boa, bem dormida.

P.S. Noite estranha essa que passou.
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Domingo é dia de estudar.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Definitivamente: talvez

Momento “infância norte-americana”. Quatro horas da tarde, céu azul claro, nuvens branquinhas espalhadas, lá no horizonte, e começo a cantarolar – tam-tam-tam-tam-tam-tam-tam-taram-taram-tam. Simpson's opening song.
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Receio estar com o tempo muito escasso para escrever, as ideias chegam, fragmentos e frases que valeriam ser desenvolvidas, porém a vida complica, trava a fluidez. Por exemplo, o amor é um mistério, e fico tentando entender o que leio e sinto. Cada vez que tento, a compreensão e o sentimento avançam. Descobri que, talvez, o amor seja enxergar Deus no outro, por que como explicar sentir uma felicidade imensa por pessoas, às vezes conhecidas, às vezes parentes, às vezes simples passantes? Um sentimento tão forte que não se sabe o que fazer com ele, pois que é maior que a nossa pessoa. E nem conseguimos ficar nesse estado por muito tempo, tamanha a nossa incapacidade de permanecer em energia tão pura. É como um vislumbre do que nos espera na escalada da perfeição. E confundimos esse amor totalmente, interpretamos de forma tão errada tudo.

domingo, 14 de abril de 2013

Lírios do campo

Nós temos a nossa vida dividida em blocos, em expectativas. Espero pela viagem que virá, pelo carnaval, pela páscoa, pelo cinema, pelos eventos que se encadeiam. Quando algo que se espera passa, ficamos, assim, sem rumo, até outro marco se fazer presente. Tal marco pode depender de eventos externos ou eventos que nós mesmos nos propomos, como as metas.

Falo disso por dois motivos...encontro-me entre projetos. Um marco meu passou e já preparo-me para embarcar em nova linha de imersão. Passei alguns dias perdida, um pouco triste, até enxergar o novo ponto de trabalho. O segundo motivo que me leva a expressar tais reflexões, é a coincidência. Minha irmã relatou sentir o mesmo, um cansaço, uma preguiça, por ter tempo e nada a se prender, e quando digo nada, quero dizer um propósito, pois a vida continua acontecendo, mas o propósito, a motivação é que se faz escassa.

Encontrar o novo ponto, pra quem não está acostumado a fazer isso de forma pragmática pode ser um problema. É preciso buscar cada vez mais nossa essência e nos devotar a ela. Não a vejo enxergando isso. Aprendi sobre este ensinamento nos últimos quatro anos e, porque insisti muito, o aprendizado se deu até rápido e constante, não sei se o seu caminho será assim, desconfio que não.

Tenho feito o que gosto, tenho me ocupado com o bem, mas algo falta. Sinto-me a beira de um precipício, com a ponte ainda a construir, sem ver direito aonde pretendo chegar. O conforto e a segurança que eu sentia quando criança parece que nunca mais será.

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sábado, 13 de abril de 2013

Td e nd

Eu estava digerindo algumas reflexões na última semana, mas, agora, de frente para o papel em branco, nada se organiza. Respiro fundo. Busco, sabe-se lá aonde, uma associação útil...

Uma menina acabou de pedir dinheiro para um lanche, tirando-me da minha introspecção, sacudindo o meu eu. A vida é tão dura. Pergunto o que ela precisa; ela pede que eu pague um lanche para ela e seus irmãos. As bocas subtamente multiplicam-se. Com carinho na voz, procurando envolvê-la em compaixão, respondo docemente que não posso pagar para todos, mas posso contribuir. Dou-lhe R$ 5,00 e um sorriso, mais de tristeza por não poder resolver o seu pedido, por não poder ajudar a todos que precisam.

Muitas das vezes, nem eu mesma consigo me ajudar. Degladio com os meus limites. Sofro, mesmo sabendo que cada um recebe de acordo com as suas obras; mesmo sabendo que não estamos aqui para sofrer e, sim, para fazer diferente e, consequentemente, melhorar.

Algumas semanas atrás chorei; uma dor me acometeu depois de uma longa discussão sobre a luta e o imperialismo. A minha luta sempre se deu de forma interna, quase nunca extrapolando para violência. Toco em um ponto sensível, minha garganta dói e os meus olhos turvam-se. Relembro a constatação: não tenho coragem de morrer por um ideal, mesmo sendo ele Deus.

O caminho parece estar se abrindo para algum aprendizado, algum novo passo, difícil de dar, ainda prematuro para se entender. O estudo ajuda muito, no entanto, não consigo evitar o melindre; quando a vida exige o exemplo, o argumento, o ensino do correto, quando nem se tem certeza do caminho trilhado. Já sei que me falta confiar. Respiro fundo. Agora é deixar a vida correr, os dias raiarem, belos e calmos, como sempre se fazem.
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Coisas de Débora e sua geração, irreverência e otimismo. Eu aprovo!
“Eu sou ninguém. Ninguém é perfeito.”

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Janela da alma doc

(…) “Acho que...acontece o mesmo...com as outras coisas que temos em excesso. Quero dizer, temos...muitas coisas em excesso nos dias de hoje. E a única coisa que não temos suficente é tempo...mas a maioria de nós tem tudo, em excesso...e ter tudo, em excesso, significa...que nada temos. A atual superabundância de imagens significa, basicamente, que somos incapazes de nos emocionar com as imagens. Atualmente, as estórias têm que ser extraordinárias para nos comoverem. As estórias simples...não conseguimos mais vê-las” - Wim Wenders, diretor de cinema no doc “Janela da Alma”.
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“O simples é o irredutível” - Walter Lima Jr., cineasta no doc “Janela da Alma”.
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“Sou um Narciso sem espelho” - Evgen Bavcar, fotógrafo esloveno cego no doc “Janela da Alma”

domingo, 7 de abril de 2013

pusilanimidade

(…) “Com os lábios entreabertos, secos pelo vento que soprava sem cessar, continuou sua dura e humilde glória com pés mais leves, corpo aguçado em movimentos. Imaginou, sorrindo que atrás de si, enquanto subia e jamais alcançava, olhos estarrecidos de muitos homens seguiam-na como uma visão escapada...sim,sim, assim tornava-se cada vez mais fácil avançar o grande corpo branco...sorriu sonsa para trás e então, como se tivesse realmente acreditado no que imaginara, viu que estava sozinha. Mas um homem, um homem, implorou espantada...que a compreendesse naquele instante no prado, que a surpreendesse quase com dor. Mas ninguém a via e o vento soprava quase frio.” (p.223)

(…) “Mas com obstinação de um mundo que avisa com os olhos impotentes sobre o perigo, ela sentia sem mesmo compreender que o lugar onde se foi feliz não é o lugar onde se pode viver.” (p.229)

LISPECTOR, Clarice. O lustre. Ed. Nova Fronteira, 1982.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Instantes

“Adormeceu porque alguma coisa jamais seria alcançada de olhos abertos” (p.212)

LISPECTOR, Clarice. O lustre. Ed. Nova Fronteira, 1982.
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Vida
2/4/13

Dia claro. Céu azul.
E na curva do fim da rua um som ritmado, como o rufar de tambores. Só que não.
Um senhor, já de cabelos, bigode brancos e fraco, passa a sua manhã.
É o bicheiro carimbando os seus papéis.
Tu-Tum
Tu-Tum
Tu-Tum
Tu-Tum