terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Pronta para ir

Seu rosto estava quente...

Talvez fosse apenas impressão. A cada rajada de vento, fechava as mãos com força, na tentativa instintiva de segurar o calor, de aguentar o frio. Melhor seria se o movimento pudesse vir seguido de grito...um grito alto, seco, talvez chorasse quando o ar acabasse. Não se assuste ou tema por ela; apesar da dor nas costas, o grito seria apenas uma forma de expressar qualquer coisa esquecida dentro dela. Não lembrava exatamente de nada muito terrível que a assombrasse, pelo menos não conscientemente. Segurava o grito pelos outros que a cercavam na rua, não queria chamar a atenção ou parecer louca, ou pior, desesperada.

Depois da euforia vem o cansaço e um desânimo. O peso da vida real é tão real. O peso do dia a dia cheio, sem leveza, sem poesia; as mesmas pessoas, os mesmos problemas, os mesmos desejos frustrados. Aterrava-a o tanto que tinha que aprender em tão pouco tempo, e sem descuidar.

Sentia o seu rosto quente novamente, via pessoas que conhecia, mas que não a conheciam. Esperava não sabia o quê. Respirava cansada...poderia dormir sentada, poderia dormir por dias...minto, sua essência não permitiria.Respirar doía...precisava ver as suas costas...consertar o que o seu próprio corpo não conseguia curar. Precisava de um remédio para aquele cansaço.

Uns dias atrás tinha ouvido dizer que o amor não podia curar os desequilibrados; será que limites e disciplina curam?, ela se perguntava. Diziam que ela estava errada; ouvia o discurso, compreendia, mas não conseguia mudar de opinião. Quem não sabe se defender também tem culpa? Dias melhores viriam.

Levantou-se. Estava pronta para ir para casa.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Nova vida

Eu tenho me sentido-...Não consigo colocar em palavras. O espírito parece inchado. Ando como um fantasma, manipulam-me a fazer o que deveria, que não quero, mas faço porque deveria. Estou sem forças para resistir a qualquer argumento. O que você me disser está bom, está ótimo. Até as palavras que canso de escrever saem erradas, tenho que voltar e corrigí-las. Meus olhos, sinto-os inchados, mesmo não tendo chorado. O quarto gira. E de novo, o entorpecimento.
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Pode-se viver de acordo com o mundo que se enxerga ou com o que não se vê – sente. Escreveu as palavras cheias de vida no guardanapo. Leu, releu e limpou sua boca com elas.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Leiamos mais

“- Os homens são todos diferentes uns dos outros, Constantino Dmítrievitch. Uns só vivem para as necessidades, como por exemplo, o Kirílov, que só pensa na barriga. O tio Platon é um homem justo. Vive para a sua alma. Não se esquece de Deus.
- O que ele faz para não se esquecer de Deus? Como é que ele vive para a sua alma? - exclamou Liêvin quase num grito.
- É claro, vive como Deus manda, é justo. As pessoas não são todas iguais. Por exemplo, o patrão não é capaz de fazer mal a ninguém...
(…) Ao ouvir dizer que Platon vivia para a sua alma, segundo a verdade, como Deus manda, pensamentos vagos, mas significativos, acudiram-lhe à mente, em tropel, como se proviessem de algum ponto onde estivessem estado encerrados, e, tendendo todos para um mesmo fim, deram-lhe volta à cabeça, cegaram-no com a sua luz”(pág.327)

“'Que teria sido de mim, que teria sido de minha vida, se não fossem essas crenças, se não soubesse que é preciso viver para Deus e não para as minhas necessidades? Teria roubado, teria matado, teria mentido. Nenhuma das principais alegrias da minha vida teria podido existir para mim.' E por mais esforços mentais que fizesse, não conseguia ver-se a si próprio o ser bestial que teria sido, caso não soubesse para que vivia.

'Buscava resposta à minha pergunta. Mas o pensamento não me podia responder, pois o pensamento não pode medir-se com a pergunta. A própria vida se encarregou de me responder graças ao conhecimento do bem e do mal. E esse conenhcimento não o adquiri através de coisa alguma, foi-me outorgado, como a todos os demais, visto que o não pude encontrar em parte nenhuma.

'De onde o soube? Porventura foi através do raciocínio que eu cheguei à conclusão de que é preciso amar o próximo e não lhe fazer mal? Disseram-mo na infância e acreditei-o com alegria, pois trazia-o na alma. E que o o descobriu? A razão, não. A razão descobriu a luta pela existência e a lei, que exige que se eliminem todos quantos nos impedem de satisfazer os nossos desejos. Esta a dedução do raciocínio, que não pode descobrir que se deve amar o próximo, por amar o próximo não é razoável'” (pág.330)

TOLSTOÍ, Leon. Ana Karênina Vol.2. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Nada para o tempo

8/1/13

A vida continua acontecendo
Nada para o tempo

Os dias me escapam
As lições continuam ocorrendo, elas não estão se escondendo

Vejo cada vez mais claro
Para sentir confuso e claro novamente

Vou, assim, num indo e vindo
Como se a vida escrevesse na areia

E as ondas chegassem, apagando os rastros
Nada capturado

De tanto que tenho aprendido
Nem cabe em palavras