sábado, 30 de abril de 2011

O inseto

Era uma vez um inseto. Qual inseto?, você pode estar se perguntando. Na verdade, nem ele mesmo sabia. Saber seu gênero ou espécie não mudavam quem ele era. Ou mudaria? O inseto via o mundo e não conseguia nem ao menos reconhecer os seus iguais, ele nunca tinha se visto em um espelho d’água. Nasceu assim solitário, de dentro de uma pupa, sem pai ou mãe. Ser órfão não o incomodava, por que ele sentiria falta de algo que nunca ouvira falar? Um lindo pôr do sol acontecia, enquanto suas asas secavam, o céu estava tão colorido! Tons de azul, vermelho, laranja e até um tom de rosa e, finalmente, preto - à medida que o sol ia indo embora; mas o inseto não percebeu...(Inseto vê cores?!) Ele fazia parte da natureza, e enquanto ainda secava suas asas, ele pensava em como estava com fome...(Inseto pensa?!) Na verdade ele apenas sentia pulsar sua hemolinfa, esperava suas asas secarem porque sabia que era isso que deveria fazer. Não antecipava o momento de voar, tinha a certeza de que voaria quando tivesse que voar, os seus instintos tomariam conta disso. Ele nem sentia prazer, era como uma máquina, um instrumento de um sistema...e ele não se revoltava, era apático e ignorante...(Inseto sente?!) Estaria gozando a vida quando estivesse fazendo o que tinha sido criado para fazer, mesmo que ele não tivesse conciência disso. O inseto observava tudo à sua volta, e ao mesmo tempo que não entendia nada, tudo parecia fazer sentido, não havia questionamentos quanto ao seu propósito de vida, ele apenas era. Feliz ficou o menino, de ver um vagalume pela primeira vez.
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Tem certas coisas que eu escrevo que de tão transparentes, eu não tenho coragem de publicar. Quem sabe um dia...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

João Cabral de Melo Neto III

A MULHER E A CASA

Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
uu será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredas fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

QUADERNA (1956-1959)
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“Inebriada pelo seu perfume forte, esqueci onde eu estava ou quem eu era”.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Castle Poem

Ages ago (2010), I wrote this little poem about Castle. I think I was going to work more on it, but never really did.

Everything in it´s place

Big “C”
Little “c”
What begins with “c”?

Castle see
Castle want
Castle do (do-do-do-do-do)

Should he be out there?
I know something yeah
He should not touch that
Would you please seat over there?

All right, all right
No need for guns
I will shut up
There is no need for fuss

There, there
Castle-boy
That wasn´t so hard,
Was it?

More posts in English.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Violência me assusta

"(…)Assim também seria o devir: potência não-orgânica, zona indiscernível de formas. O sorriso sem rosto, o grito sem boca e o corpo sem órgãos traduzem a histeria de imagens presentes na carne, sendo ‘o revelador que desaparece no que se revela: o composto de sensações’.

(...) Na narrativa cronenberguiana, o movimento do monstro-protagonista faz-se de volta a seu ponto de origem e, talvez por isso, o monstro não é descoberto enquanto ‘outro’, mas como um enigma de si próprio.

(...) Um devir inesperado vivido por um corpo passivamente investido por forças e poderes que ele próprio não pode regular.

(...) Como afirma o próprio Cronenberg, o principal propósito de seus filmes é mostrar o imostrável e dizer o indizível.

(...) O aspecto tensional da identidade entrecruzada causa uma não-solução, cuja identidade sempre é, ao mesmo tempo um continuum de des-identificação. Assim, o sujeito aceita que não há uma ‘interioridade’ a se relacionar com uma ‘exterioridade’, mas forças em constante transfiguração.”

ALTMANN, Eliska. Da “des-organicidade”: Devires cinematográficos-pictóricos. Cinema em Carne Viva David Cronenberg, 2009.
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Wally que era Waldo.
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Eletro e Raio-X OK

domingo, 24 de abril de 2011

.páscoa.

Páscoa mais comedida de todos os tempos, comi: um milkbar (mini), um choquito (mini), uma tortuguita e colomba pascoal.

Conseguimos, finalmente, encontrar o tal templo universalista que diziam ter sido instalado no nosso condomínio em Petrópolis. A casinha é bem simpática e os responsáveis têm planos bastante ousados.

Aproveitamos, também, para conhecer a feirinha de Itaipava; o restaurante deixou a desejar (só pude comer arroz, feijão e batata frita), mas a Nat e a Simone adoraram as lojas. Só eu não comprei nada lá, até o meu pai comprou um cinto! Rs

O feriado teve direito a lareira e a marshmallows no fogão!
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Música ruim fica na cabeça com uma facilidaaaade...!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Brisa do tempo

Essa semana me percebi lembrando uma memória de infância; não foi um fato, não foi um cheiro, começou pelo vento. Isso mesmo, o vento tem esse efeito sobre mim, geralmente eu sinto a brisa e fico feliz, às vezes acontece quando chove, ou quando sou surpreendida por um raio de sol que não queima. Mas o vento é certo, sempre ele me leva para outro lugar, e um lugar feliz. Dessa vez, me veio na cabeça a imagem de um lanche que fazíamos na colônia de férias, o sanduíche vinha em um plástico branco, o pão era desses lisos, cortado diagonalmente. A sensação dele encaixado entre os meus dedos, e a de mastigá-lo foram tão reais que demorei um tempo a decifrar de onde vinha a lembrança. Eu e minha irmã éramos as únicas a ficar na colônia o dia todo e, por isso, éramos as únicas a almoçar lá. Os sanduíches nos eram dados pela moça que trazia o nosso almoço e, se bem me lembro, o sanduíches eram o lanche da manhã. A moça perguntava o que íamos querer no almoço do dia seguinte, ela nos contava do filho dela, que trabalhava lá mesmo na academia/clube. Eu devia ter meus oito anos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Dividida (em pedaços?)

“Ouvira na Rádio Relógio que havia sete bilhões de pessoas no mundo. Ela se sentia perdida. Mas com a tendência que tinha para ser feliz logo se consolou: havia sete bilhões de pessoas para ajudá-la.” (pág.71)

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. RJ, J. Olympio, 1979.
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Hoje de manhã.
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“Segundo Buda, o elevado Instrutor Espiritual da Ásia, ‘ é no desejo que se encontra a causa de todo o mal, de toda a dor, da morte e do renascimento na carne. É o desejo, é a paixão que nos prende às formas materiais, e que desperta em nós mil necessidades sem cessar nunca saciadas. O fim elevado da vida é arrancar a alma dos turbilhões do desejo’”. (pág.33)

O Sublime Peregrino – Ramatis.
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Detesto ficar de bobeira, ainda mais quando o motivo são os limites do corpo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Surreal

Acabei de conferir o gabarito da prova da UNIRIO, acertei 80% da prova, e quando eu já estava um pouco feliz, li estimativas de que a nota de corte poderá ser em torno de 66 pontos, ou seja, 94%. Doidera.

Estou na expectativa de outros concursos que passei: o da CEF tem validade um ano, prorrogável por mais um (eles sempre prorrogam), e já convocaram 242 pessoas de Agosto 2010 até Março 2011.O da UERJ vale por dois anos, prorrogável por mais dois, e já convocaram 147 pessoas de Outubro 2010 até agora (Abril 2011). Talvez eu seja chamada no final do ano pra CEF ou no início do ano que vem. Já o da UERJ...4 anos é muito tempo! rs

sábado, 16 de abril de 2011

Três

Fiquei feliz com o resultado da Débora no teste de Inglês. Valendo 5, ela tirou 4, sendo que a amiga dela que faz curso tirou menos que ela. Parece que nossas aulas estão sendo úteis ^^
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“(...) o corpo, a sensualidade e as pulsões são possivelmente fontes de forças destrutivas, mas também constituem as únicas instâncias autênticas da potência criativa”.

FELINTO, Erick. O Olho e o Cérebro: o Cinema Psíquico de David Cronenberg. Cinema em Carne Viva, 2009.
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Não tenho andado muito inspirada, mas isso nem está me incomodando muito. As energias acabam sendo sugadas pelo viver, quando se está ocupada. O foco diminui a ansiedade, assim como aprendi a não me (pre)ocupar com o que não tenho controle sobre.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Dias assim sem você

“Eu ia te ligar, mas lembrei que não mais podia contar com você.”

Ele não conseguia entender, como por trás de toda aquela massa, tendo aquele tamanho todo, como podia ele sentir-se assim tão frágil?
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Eu estou lendo o catálogo que ganhei sobre o David Cronenberg, e acabei ficando curiosa para ver os filmes dele. Eu apenas vi um filme seu, Videodrome (1983), e que é bem perturbador. Não achei que o resto fosse pior...vi o trailer do filme “Shivers” e estou achando muito melhor ler os artigos sobre os filmes, do que realmente assistí-los rs O filme que me pareceu mais “assistível” dele foi “Naked Lunch”.
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Hemograma e exame de urina OK

quarta-feira, 13 de abril de 2011

João Cabral de Melo Neto II

O OVO DE GALINHA

Ao olho mostra a integridade
de uma coisa num bloco, um ovo.
Numa só matéria, unitária,
maciçamente ovo, num todo.

Sem possuir um dentro e um fora,
tal como as pedras, sem miolo:
e só miolo: o dentro e o fora
integralmente no contorno.

No entanto, se ao olho se mostra
unânime em si mesmo, um ovo,
a mão que a sopesa descobre
que nela há algo suspeitoso:

que seu peso não é o das pedras,
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.

O ovo revela o acabamento
a toda mão que o acaricia,
daquelas coisas tornedas
num trabalho de toda a vida.

E se encontra também noutras
que entretanto mão não fabrica:
nos carais, nos seixos rolados
e em tantas coisas esculpidas

cujas formas simples são obra
de mil inacabáveis lixas
usadas por mãos escultoras
escondidas na água, na brisa.

No entretanto, o ovo, e apesar
da pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.

A presença de qualquer ovo,
até se a mão não lhe faz nada,
possui o dom de provocar
certa reserva em qualquer sala.

O que é difícil de entender
se se pensa na forma clara
que tem um ovo, e na franqueza
de sua parede caiada.

A reserva que um ovo inspira
é de espécie bastante rara:
é a que se sente ante um revólver
e não se sente ante uma bala.

É a que se sente ante essas coisas
que conservando outras guardadas
meaçam mais com o disparar
do que com a coisa que disparam.

Na manipulação de um ovo
um ritual sempre se observa:
há um jeito tolhido e meio
religioso em quem o leva.

Se pode pretender que o jeito
de quem qualquer ovo carrega
vem da atenção normal de quem
conduz uma coisa repleta.

O ovo porém está fechado
em sua arquitetura hermética
e quem o carrega, sabendo-o,
prossegue na atitude regra:

procede ainda de maneira
entre medrosa e circunspecta,
quase beata, de quem tem
nas mãos a chama de uma vela.

SERIAL (1959-1961)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Portais

“Se a porta não tivesse serventia seria uma obra de arte. Portas que nos levam a lugar algum. Portas que guardam segredos. Portas que apenas existem para nos fazer sentir seguros, que esperam ser abertas, quando nunca serão. Portas que abrimos com freqüência, e até esquecemos que são portas. Portas que guardam nossos medos, e que talvez, dali a algum tempo, poderemos olhar pela fresta e tomar coragem de enfrentar algum. Portas que encerram nossos sonhos mais esquecidos. Portas que comprimem nossas vontades que afloraram e depois murcharam, mas continuam lá, secas. Portas destrancadas que podemos abrir quando queremos apenas revisitar. Portas trancadas com um cadeado, outra com dois, e outras tantas com tábuas e correntes. Portas de aço, que podemos apenas passar por elas e sonhar com o que possa estar ali. Portas arrombadas, que não mais fecham, estão sempre entreabertas e não há meio de fechá-las novamente, não há como consertá-las. Portas que você sabe que não pode abrir, dessas feitas de material vagabundo, que qualquer empurrão abre, ficando elas escancaradas, tão abertas e tão escuras, que exigiriam para sempre uma vigilância extrema. Portas que se desconhece o conteúdo, algumas você arrisca, dá uma olhada, outras você passa direto. Portas e mais portas que se transformadas em arte não serviriam para nada, mas talvez tornassem o passeio mais agradável e menos doloroso”.

domingo, 10 de abril de 2011

I will walk forever

Tirando a violência, gostei bastante de “Pulp Fiction”. Assisti a alguns diálogos com uma certa sensação de nostalgia, sentindo falta de quando filmes realmente apostavam na atuação de atores ou, como no caso do filme do Tarantino, tem diálogos com alguma substância, com questionamentos inerentes ao ser humano. Hoje os diálogos funcionam como meros “entre atos” da ação. Apesar de não gostar muito do Samuel L. Jackson, esse personagem até que me agradou. Os absurdos no filme também dão um toque especial.
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Estou com a péssima mania de ver filmes por partes.
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Expiando...pedi coragem e resignação.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Elephant man (1980)

Que linda cena eu vejo,
Um elefante e uma atriz
(Eu preciso falar)
Ela tasca-lhe um beijo,
Ele derrama uma lágrima singular

Um elefante não,
um Romeu.

Mrs. Kendal: Why, Mr. Merrick, you're not an elephant man at all.
John Merrick: Oh no?
Mrs. Kendal: Oh no... no... you're a Romeo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

João Cabral de Melo Neto

CEMITÉRIO PERNAMBUCANO
(NOSSA SENHORA DA LUZ)

Nesta terra ninguém jaz,
pois também não jaz um rio
noutro rio, nem o mar
é cemitério de rios.

Nenhum dos mortos daqui
vem vestido de caixão.
Portanto, eles não se enterram,
são enterrados no chão.

Vêm em redes de varandas
abertas ao sol e à chuva.
Trazem suas próprias moscas.
O chão lhes vai como luva.

Mortos ao ar livre, que eram,
hoje à terra livre estão.
São tão da terra que a terra
nem sente sua intrusão.

PAISAGENS COM FIGURAS (1954-1955)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Viver

Quando eu acordo sem vontade de ir ao encontro dos meus compromissos, simplesmente deixo de pensar e vou, sigo em frente, com a sensação de que ficar parada não é uma opção; bloqueio, então, o que me prende inerte, e me forço a sair do conforto para estar no campo aberto da sociedade – com a certeza de que a superação da preguiça me presenteará – o trabalho e o encontro com o outro me fortalece, me alegra e contagia.

Volto para casa certa de que não deixei a vida passar por mim, deixei de lado os meus defeitos por um bem maior, agarrei a oportunidade com todo o meu corpo, meu ser, e o resultado disso é sempre algo bom, que quase sempre dura pouco. E lá estamos nós, de novo, no dia seguinte: buscando sentir-se bem, sentimento que só ocorre quando nos mexemos e agimos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Gosto de quê?

4/4/11
Que gosto é esse?
Que me leva do céu ao inferno,
Que salga e adoça,
Que estremece e acalma.

Que tempo é esse?
Que me seca e encharca,
Que mexe com as bases do meu mundo,
Que arranca o que é meu e leva embora.

Que medo é esse?
Que me faz ter coragem,
Que paralisa às vezes,
Que silencia minha voz.

Que som é esse?
Que me enebria,
Que faz querer e pulsa,
Que embala os sonhos da gente.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cozinha

Pedi pro meu pai me ensinar a fazer ovo frito. Pois é, por incrível que pareça uns meses atrás tentei fazer e falhei solenemente rs Por sorte ou azar, assim que quebrei o ovo, meu pai falou veementemente para eu cheirá-lo para ter certeza que estava bom, e não é que estava estragado?! Ele disse que percebeu só de ouvir o ovo quebrando, isso que é experiência!
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Cidades dos Sonhos (2001): filme doido, não sei se tenho sanidade para assistir de novo no cineclube o.O
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Fiquei um pouco aliviada hoje, descobri que coisas que eu estava sentindo eram de outra pessoa e não minhas.

domingo, 3 de abril de 2011

Casa da Ciência – Blow up (1966)

Adoro quando saio de uma palestra querendo estudar filosofia! As questões apontadas pelo Patrick Pessoa (Doutor em Filosofia pela UFRJ, professor do Departamento de Filosofia da UFF) foram inspiradoras.

Ele começou falando um pouco da casamento entre filosofia e cinema, de como as artes sempre foram consideradas algo menor, diante do conhecimento ou da moral. E posicionou-se quanto às propostas de filmes, de como é possível aprofundar ideias e pensamentos, ao invés de ter a arte como mera ilustração. Para então explorar o tema de sua palestra A TAREFA DO TRADUTOR SEGUNDO O CORTÁZAR DE ANTONIONI, o Patrick nos situou no conto “As barbas do diabo” do Cortázar e que o Antonioni tomou como base para desenvolver o seu ponto de vista, a sua crítica. As margens do enredo e que combinam a literatura e o cinema, transformam o filme em um produto único, cheio de sentidos, esperando para serem extraídos.

A questão central do fotógrafo, diz respeito a traduzir a sua percepção em uma imagem. O mundo da moda e da mercadoria contrastam com a miséria, o personagem principal busca, então, a verdade. Em Cortázar: “fotografia para restituir as coisas a sua tola verdade”. Em uma Londres indiferente, cinzenta, o fotógrafo fascina-se com a personagem da Vanessa Redgrave, que expressa uma vontade, uma “doença de querer” que ele quer entender.

Em Cortázar, ele constantemente problematiza o próprio ato de narrar, inquietude de certa forma presente em Antonioni. Pode-se dividir o filme em três partes: a busca do fotógrafo, a montagem com as fotografias e a sua necessidade de contar o que descobriu. Os foliões, não presentes no conto de Cortázar, formam a moldura do “quadro” de Antonioni, eles aparecem no início, representando a subversão, e, no final, como uma coletividade ativa, que compartilha uma experiência, contrastando com os jovens apáticos da cena do show de rock, que podem tudo e não querem nada.

O Patrick ainda chamou a nossa atenção para as portas, como os personagens passavam por portas que não levam a lugar nenhum. A arte que se recusa a produzir mercadorias, buscando assim, os não objetos. A objetividade que não importa: a realidade objetiva dissolvida. E a hélice, representando a pura expressividade, objeto que aproxima-se da arte, quando o fotógrafo a compra impulsivamente, apenas porque a achou bonita. A palestra foi realmente muito boa! =D
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Próxima sessão do cineclube da Casa da Ciência: 07 de MAIO com o filme CIDADE DOS SONHOS (2001) do DAVID LYNCH, e o palestrante HENRIQUE ANTOUN com a palestra A CARNE DA REDE: MULTIDÃO LIVRE.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Muros a baixo?

“Corpos próximos, calor que aquece no frio e esquenta ainda mais numa noite de verão. Mesmo através dos muros, era possível sentir...a intenção. O toque que distrai e constrói a sensação. Onde estávamos mesmo? A razão que se esvai e dá espaço ao dionisíaco. Prova de tentação! O corpo que está vivo, decidindo entre o ceder agora, ou mais tarde, ou nunca. Apolínio chega, então, para por fim à indecisão, mesmo que incerto da questão. Dúvidas não fazem bem a quem quer que seja.”
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